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quarta-feira, 20 de julho de 2011

fazer doutorado e ter um bebê pequeno: o parto mais difícil

este post é dedicado às minhas amigas que estão passando ou passaram por este parto duplo, em especial minha mana Marcela Amaral, parabéns amiga, você conseguiu e eu também vou conseguir!


pois é queridas/os leitoras/es, eis aí a razão verdadeira da dificuldade de manter este blog minimamente atualizado...

- quem já fez ou está fazendo uma monografia, ou dissertação, ou tese, ou escrevendo um livro, ou qualquer trabalho desta natureza, vai me entender...

- quem está cuidando ou já cuidou de um bebê pequeno, que mama em livre demanda (ainda que vá reduzindo aos poucos), e do qual se busca atender integralmente necessidades físicas e emocionais, sem terceirizar, ou terceirizando muito pouco, também vai me entender...


- agora, pense nestas duas coisas juntas... e o entendimento vai ser total!
 
é mais ou menos assim: sentou no computador naquelas horinhas, começou a concentrar, seguiu a linha de raciocínio e aí blim! blom! acabou seu tempo: "mamãe, mamãe, mamãe"... mas já? passou tão rápido... e toca a dar banho, ou levar pro parquinho, ou colocar pra dormir! rsrsrs....

(só reforçando que ambas as situações são escolhas minhas, totalmente conscientes... ou seja, ninguém me "colocou" nessa, fui eu mesma que optei, né?)

é claro que dá pra fazer um monte de coisas da casa e da vida, e mesmo de trabalho e de estudo, com um bebê pequeno pra cuidar...
mas é super mais difícil sentar pra redigir um texto de maior fôlego com o bebezinho ali pra cuidar...

mas não é impossível!
(só não dá pra querer fazer do jeito que faria se não tivesse a outra situação, e vice-versa... abaixo o perfeccionismo! tese boa é tese pronta! JÁ! rsrsrs....)
 
é por isso que EU VOU CONSEGUIR acabar meu trabalho de doutorado, graças principalmente, é claro, ao SER ANGELICAL que cuida de mim e da nossa filhinha todo dia (bê! moxê! nhá, nhá!), e graças ao apoio e às vibrações positivas de todos que estão torcendo e dando força de maneiras várias pra isso!


mas até lá, este bloguinho vai ficar meio desatualizado mesmo, falou?


até lá! até breve!
beijos nesguinhos pra todo mundo!


ATUALIZAÇÃO de quase 1 ano depois: então, gente, talvez já tenham percebido, mas EU CONSEGUI!  6 anos de doutorado, mas consegui terminar!
Aqui a foto histórica pra posteridade com as minhas duas filhas, a biológica e a acadêmica, haha!
Valeu pela torcida!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

horror institucional na Espanha: mãe e filha separadas por conta da livre amamentação!

Atualização (22 junho): hoje a notícia mais esperada, mãe e filha juntas novamente! O Instituto Madrilenho do Menor e da Família (IMMF) voltou atrás...  mas o que mudou na situação existente há 3 semanas? A verdade é que nunca houve argumentos pra justificar esta barbárie, a não ser que não concordavam com questões relativas a amamentação, sono e como alimentar e vestir o bebê... ou seja, nada que tenha a ver com o BEM-ESTAR da criança! Puros preconceitos em cima de preconceitos!
É bom que se diga: mesmo nos relatórios do próprio IMMF - e a verdade é que muitos DESINFORMADOS que não leram os documentos acreditavam que "alguma razão" havia pra tirar a criança assim - não se fala em maus-tratos nem nada, mas que a mãe amamentava o bebê a qualquer hora e em qualquer lugar (ops, eu também faço isso com Inaê!), dava comida do próprio prato dela pro bebê experimentar (ops, eu também!), dormia junto com ela (ops, eu também!). Será que se eu estivesse na Espanha e não tivesse grana nem trabalho, e ainda mais sendo uma não-espanhola, também tirariam minha bebê caso morasse em um centro desses? Neste momento, ao mesmo tempo em que sinto vergonha da Espanha e um certo alívio por não morarmos lá, também sinto orgulho de todos os espanhóis e espanholas que lutaram bravamente todos estes dias pra que este pesadelo terminasse logo... hoje vou dormir feliz, e cada mamada da minha própria filha ao longo do dia teve um gosto especial, me lembrando do triunfo do AMOR. Porém, amanhã e ainda por muito tempo permanecerá a luta na Espanha contra as crueldades do sistema, em especial dos serviços de proteção a menores, pois este caso revelou que já existiam muitos e muitos outros casos. Mas isso amanhã, porque hoje só quero celebrar a reunião de Habiba e Alma, viva a força do AMOR.


Correção e atualização (15 junho): no texto abaixo, que fiz p
Habiba) ou a coloco pra dormir no peito, me lembro dessa bebê, tão brutalmente separada da mãe. Assim como a minha, essa bebê mamava pra dormir. Que desespero pensar nesse bebezinho, no seu corpinho contorcido de tanto chorar (segundo relatos). É tudo muito desesperador. Assim como outras mães que vêm acompanhando o caso, sinto impotência, raiva, dor.
Mas mais desesperador é saber que muitos e muitos outros casos como esse, de separação brutal e forçada, têm sido cometidos pelos serviços de "proteção ao menor" na Espanha e começam a vir à tona e ganhar visibilidade com o caso de Habiba.
Minha pequena Inaê tem cidadania espanhola, e quero que se orgulhe disso. Porém, nestes dias dolorosos, tenho tido vergonha da Espanha, ou melhor, das instituições espanholas.

Para mais informações atualizadas sobre o caso, bem como relatórios de psiquiatras, pediatras e especialistas que vêm demonstrando publicamente o absurdo dos argumentos usados pra separar a mãe e sua bebê (incluindo um texto do meu querido Dr. Carlos Gonzalez), ver o blog da rede de apoio:
http://todossomoshabiba.blogspot.com/

E também este, incluindo uma linda lembrança sobre o mito de Deméter e Perséfone e a força do vínculo mãe-filha contra as tentativas de separação:

Seguimos acompanhando - que se unam mãe e filha JÁ! Todas as mães e filhas/os que se encontram brutalmente separados!



Minha amiga Dulce, do nosso grupo de mães-mamíferas aqui de Brasília, acaba de me mandar uma história tão, mas tão chocante, que parece até ficção...
Não é, infelizmente e pra minha dor, é tudo verdade, está circulando em um monte de blogs das redes maternas, comunidades pró-amamentação etc. e notícias de jornal por aí.

Trata-se de mais um caso de brutalidade institucional. Assim como o que foi praticado contra minha amiga jornalista, Adriana Mendes, e com a fotógrafa e videasta Elaine César, ambas brutalmente afastadas de seus filhos pelas instituições judiciais, que acataram processos com base em depoimentos fantasiosos dos respectivos pais das crianças e sumariamente suspenderam ou limitaram o contato mães-filhos. Assim como o que foi cometido contra a jovem mãezinha que amamentava seu bebezinho de colo no famigerado "visitário público" de SP.
A única diferença é que neste caso não são instituições brasileiras, e sim espanholas.

A jovem marroquina Habiba foi separada à força de sua filhinha de apenas 15 meses (um bebê exatamente da idade da Inaê), porque a amamentava livremente
Sim, isso mesmo, é o que vcs leram: mãe e filha separadas por conta do livre aleitamento (aquele mesmo, sem horários fixos, recomendado pela OMS)!
Ah sim, além de ser marroquina, ela é solteira e tem 15 anos... ou seja, contra os preconceitos e pré-julgamentos que estas 3 condições juntas provocam, não adianta nadica de nada ser uma boa mãe, amorosa e dedicada, e totalmente a fim de cuidar e acalentar e acolher seu bebê.


No centro de abrigo de mães solteiras onde ela vivia, quiseram inclusive que ela tomasse remédios pra secar o leite (horror! horror! horror institucional!).

Habiba se recusou, ela queria apenas amamentar a filha. Bom, pra resumir, a filhinha foi retirada dela há cerca de 10 dias, e depois também a jovem foi expulsa do centro.

No grupo do Facebook que criaram para apoiar Habiba e denunciar o caso, foi postado o seguinte depoimento da psiquiatra que acompanhou a jovem mãe em uma visita de UMA HORA a seu bebê: 


"Siento un dolor, una impotencia y una rabia inmensas. Acompañar ayer a Habiba a la salida del centro fue durísimo, me siento testigo del linchamiento de una menor de 15 meses absolutamente inocente. Cada minuto que pasa sin su madre el daño es mayor. Habiba ayer decía "no se porque me hacen tanto daño, si quieren pegarme una paliza que me peguen a mi pero que no hagan esto a mi hija, no puedo mas..." por favor, que esto acabe ya. Difundidlo donde haga falta, que se paralice todo, no somos nada si no evitamos este daño a esta niña de 15 meses" (Ibone Olza)


É um verdadeiro horror, mas o que pra mim torna ainda mais trágico é ter sido praticado por instituições que deveriam proteger justamente aqueles mais frágeis em nossa sociedade, jovens mães solteiras pobres e, principalmente, crianças e bebês...

Um dos inúmeros blogs espanhóis desta rede denuncia que na Espanha, nas diferentes Comunidades Autônomas, as mães pobres tem ajuda de uma renda mínima por no máx. 3 meses (no Brasil nem isso, bem entendido), se depois disso não "melhoram sua situação econômica", o bebê é retirado e enviado a uma família de acolhida!! E o que mais uma mãe que está no pós-parto pode fazer senão cuidar do seu bebê por período integral? Como, pelas deusas, sair pra buscar emprego se há um recém-nascido para amamentar e cuidar? É absolutamente incompreensível!
Como diz minha amiga Dulce, a história de Habiba, a jovem mãe marroquina, traz uma "mistura de xenofobia com autoritarismo, misoginia e mais 5 milhões de tipos de preconceitos nojentos".

Estou aqui divulgando, não posso me calar. Todas somos mães. Todas somos Habiba! 

Para quem tá no Facebook, a página do grupo de apoio é esta aqui.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Carta aberta a Caco Barcellos e equipe: o caso Dorinha e as perguntas que não querem calar


Caco e equipe Profissão Repórter:

Acompanho de perto e desde o começo o caso da menina Dora Mendes Golfeto, apresentado na edição de ontem (31 de maio) do programa, e venho a público, como cidadã, profissional e mãe, questionar por que o programa se calou sobre tantas questões fundamentais.
Aparentemente, um programa “neutro”, mostrando os “dois lados”. Na prática, porém, tantas perguntas que não foram feitas (ou não se quis fazer), perguntas que ficam no ar e comprometem qualquer isenção, falam de um determinado ponto-de-vista.
Falta de informação? Decisão deliberada? O que sei é que, por conta dessas omissões ou equívocos, a matéria já nasce “viciada”.

Senão vejamos:

- Por que o pai tirou a filha da mãe, se não foi para cuidar dela?
Ei Caco, nem precisa afirmar tão veementemente que não, de jeito nenhum, que não vai dar o endereço de onde Dora mora agora.
Ora, qualquer mínima investigação de foquinha iniciante pode verificar que Dora foi levada pelo pai para morar com os AVÓS PATERNOS (José Hércules Golfeto e Ed Melo Golfeto) em Ribeirão Preto.
Antes morava com uma mãe amorosa e presente, Adriana Mendes, com quem levava uma vida absolutamente normal, boa em termos materiais e emocionais, boa escola, prestigiado corpo de balé municipal etc. Agora vive sem mãe e um pai de vez em quando, sabe-se lá quando.
Ah sim, o pai, Jonas Golfeto, deu o endereço de Ribeirão como sua nova residência... Então tá... só se for pra juiz e foca do Caco Barcellos ver!
Afinal, até o mundo mineral sabe que Jonas reside há mais de uma década em São Paulo, onde inclusive esteve em cartaz até o último dia 29 de maio com a Cia. Les Commediens Tropicales. Como assim? Mora em Ribeirão e trabalha em SP (336 km de distância)? Faz mais de 600 km diariamente? Ou, se não faz, quem cuida da filha?
Trabalhinho básico, bem básico, de checar informações. Não digo a coisa artificialmente montada pras câmeras, mas a história real, na lata, do que acontece no cotidiano de Dora: será que é mesmo este pai que está cuidando dela, levando-a à escola, participando de sua vida em todos os aspectos necessários?

- Por que não divulgar a última entrevista feita com Adriana, há poucos dias, mostrando que até hoje, quase 4 MESES depois, o pai nunca deixou a filha sequer falar ao telefone com a mãe, quanto mais encontrá-la pessoalmente?
O Profissão Reporter tinha este material e poderia ter mostrado. A cena em que ele arranca Dorinha da escola, ela chorando e pedindo desesperada pra falar com a mãe, é de cortar o coração. “Não, hoje não”, não vai falar com a mãe hoje.
Mas e depois, será que falou?
A resposta é NÃO! NUNCA MAIS!
De novo, investigaçãozinha básica, pessoal! Bastava a foquinha ter presenciado (e melhor ainda, ter registrado) a mãe ou qualquer outra pessoa tentar ligar pros telefones do pai ou da casa dos avós onde Dora mora em Ribeirão pra descobrir o que acontece.
Mas não fizeram (ou não quiseram fazer) isso, então vou falar o que acontece: faz quase 4 longos meses que qualquer telefonema de Adriana e de qualquer amigo que tente falar com Dora são sistematicamente desligados. Nada, nenhuma comunicação. Dorinha está sendo impedida de qualquer contato com a vida anterior que tinha, qualquer contato com sua mãe e sua irmãzinha de 2 anos.
Não usemos mais meias palavras, vamos dar nome aos bois: a menina está em uma espécie de cárcere, em situação de privação – ainda que numa rica casa, com zilhões de presentes e tudo o mais para garantir sua “adaptação”, ganhar uma câmera de filmar, poder usar sapatilhas de ponta (que, diga-se, não podia usar ainda em Santos, pois lá no Balé Municipal se preocupam com os pézinhos em formação e só permitem a ponta após os 10 anos...).
Ah, mas se poderia argumentar que Dora também não teve contato com Jonas todos estes anos com a mãe... Bom, uma coisa é quando a criança é impedida de ter contato como agora, outra é quando poderia ter e a criança nem queria, e não por qualquer tipo de pressão da mãe, pelo contrário: é só ver como Dorinha, sempre tão doce, tão gentil, tão educada (claro, foi a mãe quem a criou e educou!), no fim acaba indo com o pai, pra constatar que, mesmo sofrendo sistemática campanha de ódio e vingança, a mãe jamais usou a filha como instrumento dessa briga e a manteve imune a qualquer imagem negativa, qualquer fato que destruísse a figura do pai.
Tão diferente da lavagem cerebral praticada contra a mãe de Dora, com uma forcinha global, claro.

- Por que não investigar o contexto que levou à “fuga” (eu, como mãe, prefiro dizer a libertação) de Dora com a mãe anos atrás?
Uma criança de 3 aninhos que sofria alienação parental praticada pelo próprio pai, que a obrigava a só encontrar a mãe em um lugar insalubre e deprimente chamado “Visitário”? (eu sei como era, também disso sou testemunha porque lá estive visitando Dorinha, mas não gosto nem de me lembrar daquele lugar pra não ficar deprimida). Nada de encontros com a mãe em outros lugares mais alegres, nada de ir à casa da mãe, muito menos pernoitar com ela. Uma menininha de apenas 3 anos.
Sim, a mãe foi embora com ela. Mas é muito importante entender em qual contexto. Pois eu também sou mãe, e embora seja difícil especular sobre o que não se coloca de fato, sinceramente estou convencida de que, nestas condições-limite, faria o mesmo. E tenho certeza que muitas e muitas e muitas outras mães também, MÃES de verdade.
Mas esse contexto desesperador, com história do visitário etc. não interessa mostrar, porque poderia criar simpatia e solidariedade em relação ao ponto-de-vista da mãe, não é?

- Por que não contar que Jonas não só quer afastar a filha da mãe como também está tentando eliminar qualquer rastro da mãe na vida da filha, tendo pedido a “destituição de poder familiar”?
Sim, isso mesmo, ao contrário da imagem de pai bonzinho que o programa tenta construir, o ódio e a sede de vingança são tamanhos que Jonas deu entrada num pedido pra limar totalmente a mãe da vida da filha.
Gente, é chocante, atenção leitores: o nome da mãe seria inclusive retirado da certidão de nascimento de Dora! Simples assim! Apagar a existência da mãe da vida de uma criança por força de uma decisão judicial!
Acontece que um juiz de bom-senso percebeu o absurdo da situação e sumariamente extinguiu o processo, que ainda corria em SP.
Depois disso, Jonas transferiu o processo pra Ribeirão (além dele não cuidar da filha, deixando-a com os avós, o objetivo é, bem-entendido, dificultar ainda mais o contato mãe-filha e todos os trâmites judiciais) e, DE NOVO, entrou com processo pedindo a destituição do poder familiar, dessa vez na justiça de Ribeirão! Minhas deusas! É muito ódio pra uma pessoa só! Por que não mostrar isso na telinha do plim-plim?
Uai gente, óbvio, invalida a “tese” do programa!

- E aqui caímos na derradeira pergunta, não menos importante: por que tanto empenho em demonstrar a suposta isenção e neutralidade do programa?
Há claramente “teses”, baseadas em pressupostos cristalizados, a serem demonstradas – e tudo bem superficialmente, em 30 minutinhos. Nada é neutro por aqui. Comovente e um tanto patético o esforço da repórter Gabriela Lian pra “não tomar partido”. Gabriela é quase uma “veterana” da equipe de Caco, há 4 anos no programa. É inevitável que seja preservada pelo chefe de eventuais questionamentos ao seu comportamento ético. Porém, as perguntas se acumulam: por que Gabriela esconde o fato de que já conhecia Jonas, são “amiguinhos de Facebook” e tudo? Ou de que, como ele, também é de Ribeirão Preto? De que os pais dele, como os dele, também são da área de psiquatria (pai) e psicologia (mãe)? Nossa, quantas coincidências, não? Ah, nada disso coloca em cheque seu trabalho como repórter... será mesmo que não? Então aqui vai mais uma perguntinha até agora sem explicação: o que Jonas e Gabriela faziam, sobre o que conversavam, em um restaurante paulistano na semana passada? Fato testemunhado por duas pessoas dispostas a afirmá-lo em juízo?

São muitas perguntas, muitas omissões, muitos equívocos, muitos fatos fundamentais silenciados.
Um silêncio ensurdecedor.
É possível enganar poucos por um tempo, mas não é possível enganar todo mundo o tempo todo.

Em nome de Dorinha e de sua mãe, nunca vamos nos calar frente à disseminação da mentira.

A verdade prevalecerá.

Assina esta carta aberta:
Gabriela Cunha - cientista política e gestora governamental, e mãe da Inaê (1 ano e 3 meses)
Brasília, DF

Foto: eu com Dorinha e sua irmãzinha Mimi - Baixada Santista - dezembro 2010

Para conhecer mais sobre a verdade do caso Dora e a história real de uma MÃE, vejam:

segunda-feira, 30 de maio de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Amamentar: o quase-tabu...e a dor pela mãe que amamentava no visitário

Esta semana, um grupo de mães fará um "mamaço" coletivo em protesto ao Itaú Cultural da Avenida Paulista, de onde uma mãe foi retirada de uma exposição em março após dar de mamar ao bebezinho de 2 meses...

O caso está longe de ser único, todos os dias ouço mães que relatam ter sofrido críticas e até ameaças por amamentarem seus filhos em público. Se a criança tiver mais de 1 ano então, apanha... Mais de 2 anos? Vixe, aí é crucificação e linchamento na certa. Tudo isso num país onde é normal mulherada de peito de fora em comercial da tv e desfile de carnaval, mas mãe amamentando filho é ofensivo, e virando um quase tabu.

Gostaria de não me incluir nessa, mas pra meu desgosto me incluo. Na escolinha da Inaê a diretora me pediu pra passar a amamentar minha filhinha em um recinto fechado, longe dos meninos mais velhos (4, 5 anos) que estavam começando a "falar coisas". Confesso que não tive reação e acatei, mas até hoje não digeri bem. Como assim, "falando coisas"? A maldade e a perversão que houver está toda na cabeça de adultos, nunca de crianças muito jovens, que deveriam, ao contrário, aprender que amamentar é natural e bonito. Por isso já decidi: vou levantar o assunto junto à escola.

Aliás, aqui está uma excelente reflexão sobre a importância do processo natural de aprendizado que acontece com crianças muito novinhas quando expostas ao ato de amamentar (o link é em inglês, mas pra quem não lê vale a pena ao mesmo dar uma olhada nas fofos, muito fofas)...

Também nesta mesma linha de indignação, a jornalista Lia Miranda aqui de Brasília, mãe da Emília e com outro bebê na barriga, acaba de publicar um ótimo Manifesto pela Amamentação, que eu assino embaixo sem tirar nem pôr!

Agora uma nota mais chocante e profundamente dolorosa, sobre o caso relatado por minha amiga Dri, que enfrenta a batalha pela volta de sua filhinha Dora, como já contei antes.
A Dri, jornalista que escreve lindamente com a razão e o coração, e dona de uma memória prodigiosa, fez mais um relato sobre a época do famigerado "visitário" público de São Paulo, então o único lugar em que muitos pais e algumas mães em disputa de guarda como ela tinham para desesperadamente ver seus filhos bebês e crianças.
É o relato da jovem mãezinha que amamentava seu bebê nas escassas visitas quinzenais. Sim, vocês leram isso mesmo, um bebê QUE AINDA MAMAVA arrancado de sua mãe, sob a justificativa de que ela estava deprimida. Alguém consegue pensar numa maneira mais fantástica de ajudar uma mãezinha com depressão do que arrancando seu bebê?
Não consigo nem relatar mais que já começo a chorar de novo, aliás só de lembrar daquele horrendo "visitário" que conheci ao visitar Dorinha lá uma vez já me vem o nó na garganta.
Quem quiser ler o relato inteiro por favor visite o blog da Dri, o post está aqui.


Pra mim o mais inaceitável de tudo isso é a brutalidade institucional. Sim, tudo feito ao amparo de instituições judiciais. A ruptura do sagrado vínculo mãe-bebê, legitimada por trâmites legais.
Assim como, voltando ao primeiro caso: a expulsão da mãe do Itaú Cultural, segundo as "regras da instituição".

Só que no caso da mãezinha do visitário, tudo infinitamente mais doloroso e desesperador, um crime promovido por indivíduos e instituições que jamais terá volta, pois este o primeiro ano daquele bebezinho (e o segundo? e o terceiro? o que terá acontecido com esta mãezinha, pelas deusas?) jamais terá volta, a dor desta brutalidade pra sempre impressa na sua história.


Por isso relatamos e denunciamos.
Contra isso nos manifestamos.
Não vamos nos calar.

domingo, 1 de maio de 2011

maio, nosso maio!

Pra resgatar o sentido histórico original do 1o de maio, hoje tão esquecido, e compartilhar uma animação super gracinha e divertida, que nem por isso deixa de ser rica em informações e reflexões profundas.
E o mais legal: feita inteiramente em software livre, a partir de uma construção coletiva, que me enche de orgulho desses meus compas. Adelante!

Maio, Nosso Maio from farid on Vimeo.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

meu coração que bate fora do peito




não é pra entrar, mas antes pra fugir do inevitável climão "dia das mães" e lembrar que:

- todo dia é dia de se encantar com a delicadeza leve da brincadeira, das gracinhas, de apertar bem ao peito, encher de beijinhos, rolar junto, rir junto, estar junto

- todo dia é dia de se emocionar com a força de um amor sem medida, sem condição pré ou pós, sem explicação, sem fim
- todo dia é, enfim, dia de maternar e ser maternado!

beijinhos maternos e mamíferos!

terça-feira, 19 de abril de 2011

introdução de alimentos e continuação da amamentação: um relato familiar

Como introduzir o bebê no maravilhoso novo mundo dos alimentos sem que isso prejudique a continuidade da amamentação (até os 2 anos ou mais, como recomenda a própria Organização Mundial de Saúde)?
Esta era minha principal dúvida quando a Inaê foi chegando perto de 6 meses. Como sabia que o padrão é introduzir nesta época, comecei a me informar bastante sobre o tema, conversando com as duas pediatras dela (uma da rede pública, outra particular – ambas amorosas e respeitosas, mesmo quando discordamos), e trocando informações com outras mães com quem tenho afinidade pra ter uma ideia, mesmo sabendo que cada caso é um caso. Também li coisas bem legais na época, como o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos, do Ministério da Saúde (interessantíssimo pra identificar as diferenças das culturas regionais em quando e como se inicia a complementação e o desmame, e os textos da dra. Elsa Giugliani (responsável pelo Depto de Aleitamento Materno, da Sociedade Brasileira de Pediatra) e, principalmente, do maravilhoso e querido dr. Carlos Gonzales (fundador da Associação Catalana Pró-Amamentação), que postei aí abaixo. E também tem este longo e lindo post sobre "Comilanças de Bebê" da amiga Cláudia Rodriguez lá no BuenaLeche.
Meu objetivo era que tudo fosse feito da forma mais lenta e gradual possível, pois inicialmente tive muito medo que um processo rápido demais acarretasse desmame precoce.
Isso porque, infelizmente, via vários casos de mães, incluindo algumas pró-amamentação e desmame natural, cujos bebês desmamaram totalmente antes de 1 ano, e que hoje sei que é altamente improvável de isso acontecer por si só.
Algumas mães até interpretam como desmame “natural” o que na verdade ocorreu por circunstâncias externas ao ritmo do bebê, e que podem ser muito variadas, por ex.: volta da mãe ao trabalho, complementação com mamadeira etc., ou ainda, num plano mais inconsciente, vontadezinha bem lá no fundo da mãe desmamar, que acaba “forçando” um pouco a barra do bebê – como eu já discuti antes aqui, algo relacionado aos conflitos em torno de aleitamento livre demanda X disponibilidade integral.

Algumas dúvidas que eu tinha na época, e coisas que acabei desmitificando no caminho:


1 – desmame ou complementação?
 O uso da palavra “desmame” hoje me parece altamente equivocado, pois a introdução de alimentos NÃO significa que o bebê vai parar (ou começar a parar) de mamar. Por isso é que nas comunidades pró-amamentação se fala em “introdução de alimentos complementares”.
Pra mim, foi muito esclarecedor entender que, até mais ou menos 1 ano, o leite materno ainda é o principal alimento do bebê, e os demais alimentos devem se tratados como o que realmente são: complemento.

2 – a introdução de alimentos complementares precisa mesmo começar por volta de 6 meses?
Nas págs. 27-29 do Guia do MS, há argumentos dizendo da queda calórica do leite materno a partir dos 6 meses, mas já ouvi casos de mulheres que optaram por manter o exclusivo além disso, até perto de 1 ano! No nosso caso, acabamos começando só lá pelos 6 meses e meio, quase 7, quando a Inaê finalmente sentou sozinha, o que pra gente foi um super-sinal do momento mais propício.
Também há casos de bebês que demonstram um incrível interesse antes disso. O recomendado é mesmo esperar por volta de 6 meses, mas nunca antes dos 4, nem mesmo chás, sucos ou água – caso o bebê mame no peito livre demanda, ele não precisa de nada disso, não importe o que digam avós, tias ou vizinhas! A partir daí, importante é que a introdução de alimentos só comece quando a mãe assim decidir, observando sempre os sinais do bebê (e não por pressão dos familiares ou recomendação dos pediatras).

3 – quando finalmente a complementação for iniciada, como deve ser exatamente?
Primeiro, não há dogmas. Achei muito interessante que a pediatra da Inaê não me “ensinou” nada, apenas relatou como foi com ela (e ela amamentou a filha até 2,5 anos, ou seja, fez na prática o que estou falando aqui). Você pode fazer como quiser, primeiro fruta ou primeiro legume, repetir o mesmo alimento vários dias ou inserir um diferente a cada dia, começar pelo lanche da manhã ou pelo almoço etc. etc. As possibilidades são muitas e vão depender dos arranjos e estilos da família.
A única coisa que acho mais importante é ter consciência de que esta é uma fase de EXPERIMENTAÇÃO. Ofereça tudo que for interessante ao bebezinho: se ele quiser, ótimo, se ele não quiser, não tem problema, ofereça uma próxima vez, se ele realmente não quiser nada, tudo bem, ele mama! No outro dia, ele experimenta, ou daqui a uma semana, e tudo certo! Sem estresse.

4 – começar por frutas ou legumes? E os outros alimentos?
Isso é cultural, não tem regra, eu no começo tendia a começar pelas frutas por serem mais docinhas e próximas do sabor doce, naquela linha de transição gradual, porém também são mais ácidas.
O primeiro alimento escolhido aqui em casa foi a abóbora, cozida no vapor (cuscuzeira) e amassadinha. Dei peito antes E depois dela experimentar. No dia seguinte, repetimos a experiência. Com poucos dias, fomos introduzindo novos alimentos (batata-doce, chuchu, arroz integral, banana), sempre uma vez ao dia, e apenas como experimentação, sem pressa.
Há uma linha que pede pra evitar gluten (presente nos cereais) inicialmente pra evitar possíveis alergias, outra que diz que há uma janela de oportunidade pra introduzir e evitar futuras alergias. Fomos pra segunda e logo introduzimos cereais: arroz integral, pão integral, aveia ou quinoa com frutas etc. Também introduzimos relativamente rápido para experimentação de ovos e peixes.
A única restrição que realmente fizemos foi ao mel e aos laticínios, mas agora que fez 1 ano ela já experimentou mel no suco... e iogurte (claro que adorou, né?).

5 – sopas e sucos X sólidos:
O Guia do MS e os pediatras pró-amamentação são enfáticos em não recomendar sucos nem as famosas sopinhas dos tempos da vovó.
A explicação é simples e faz todo sentido, se a comida for líquida demais o bebê enche a barriguinha de líquido e ingere muito menos nutriente. Posso dar meu testemunho das vezes em que dou suco à Inaê: como tem o docinho da fruta, ela adora, aí não é só pra matar a sede como os golinhos de água, ela fica bebendo, bebendo, bebendo...! Por isso, pra matar a sede, nada melhor do que água, ou chás. Eu adoro fazer chá de hortelã pra ela e oferecer frio (e sem açúcar, óbvio), é como um suco deliciosamente refrescante!
Para legumes, carninha, arroz etc., basta dar uma amassadinha ou cortar/desfiar, não precisa nem triturar, muito menos colocar água e fazer sopa.
Para frutas, é preferível o bebê comer ou chupar a fruta in natura, em vez de transformada em suco (com exceção de frutas em que não precisa adicionar água pra fazer suco, por ex. melancia).

6 – copos X mamadeiras:
A recomendação de não usar (aliás, nem compre e se ganhar, desfaça-se logo pra não cair em tentação de usar) mamadeiras e chupetas têm a ver com a sucção diferente que elas proporcionam, que acaba confundindo e até favorecendo o desmame total. Conheço um caso de mãe que precisou tomar remédio forte por 3 dias e deu mamadeira, quando voltou a aleitar o bebê de apenas 8m não queria mais!
Então, o que fazer nos casos em que não tem o peito?
Dê na colherinha, ou no copinho!
Existe até um treco tchop-tchura, chamado “copo de transição” ou “copo de treinamento”. A Inaê tem 2 desses da marca NUK e foi neles que começou a entrar no maravilhoso mundo da água e dos chás (e eventualmente sucos). Não sei exatamente por que são de transição, mas desconfio pela dificuldade em sugar, tem que fazer força mesmo (já testei), e são anti-vazamento.
Mais recentemente ela até prefere o copo mesmo, mas aí ainda precisa de um pouco de ajuda pra não derramar tudo, porém a gente encoraja que é assim que vai aprendendo. O que também tem a ver com o ponto seguinte, que é:

7 – autonomia!
Gente, bebês ADORAM segurar sozinhos a comida, e mesmo que não consigam bem, gostam de tentar. É muito legal permitir que eles façam isso desde o começo. Aqui em casa, passamos muito, muito rápido pela fase das papinhas amassadinhas, pois Inaê gosta mesmo é do alimento cortadinho, se possível que ela mesma possa segurar. Enquanto isso, a gente continua a dar a maior parte de colher, mas o importante é que ela tenha a experiência de segurar que ela gosta tanto.
A primeira refeição que consolidamos por aqui foi o café da manhã, que geralmente começava com uma meia laranja lima (descascada e sem sementes) que a própria Inaê segurava sozinha pra chupar, antes de comer banana ou mamão com aveia, e depois um pedacinho de pão que ela também pegava com as mãozinhas. Aos poucos foi pegando sozinha de tudo: frutas (algumas são ótimas pra segur ar, como manga), pão, brócolis, cenoura, carne, até osso de galinha (só tome cuidado pra tirar aquele osso agulhinha).
Tem dois tipos de argumento geralmente usados contra esta autonomia relativa do bebê.
Um é o do medo do bebê engasgar. Ora, é claro que o bebê pode engasgar, a Inaê já engasgou com uma uva e eu tive que meter a mão lá na goela dela! É por isso que se trata de uma autonomia supervisionada. Você não vai deixar o bebezinho muito novinho totalmente sozinho enquanto experimenta algum alimento, vai? Então, se você está ali ao lado, tomando cuidado pra cortar pedaços num tamanho que não engasgue e vendo se mastiga e engole direitinho, não há por que privá-lo da experiência de um pouquinho de autonomia.
Outro é o da proibição do bebê se lambuzar. Realmente, se você der um alimento (principalmente um bem lambuzento, tipo uma manga ou banana ou uma coxa de galinha) pro bebê segurar e chupar, provavelmente depois vai ter que lavar as mãozinhas e talvez até trocar de roupa. Mas na boa, pra mim isso é nada diante da carinha iluminada destas criaturinhas felizes que só elas em seus primeiros momentos de conquista!
Ah, e aos poucos eles vão adquirindo mais destreza e novos interesses, por ex. a Inaê anda numa fase que adora "compartilhar" a comida comigo ou outras pessoas, cada vez que eu mordo ou mastigo algo que ela me deu ela se diverte horrores! Não é muito mais divertido a hora da comida assim?

8 – companhia!
Aqui em casa comer é uma experiência totalmente relacionada a estar junto e ter prazer. Bom, todo mundo sabe que eu e o Nes somos bons de garfo, pois bem a Inaê está saindo igualzinha, e isso pra mim é uma primeira lição, que os pais são modelos pros filhos (pro bem ou pro mal). A gente adora comer e comemos de tudo. Resultado: temos uma pequena DRAGA aqui em casa, que come de tudo e se interessa em se experimentar de tudo. Acredito vivamente que o exemplo dos pais faz a diferença (inclusive para as besteiras, então nada de refrigerante, açúcar etc., quanto menos contato com doces e junk food agora, melhor pro bebê nos seus hábitos futuros, quando a oferta será quase inevitável!)
Não lembro exatamente quando, mas muito rápido a gente parou de fazer comida “especial” de bebezinho, tipo cozida no vapor à parte e amassada. Em questão de semanas, ela passou a comer o mesmo que nós, apenas amassando ou desfiando quando fosse o caso – mesmo porque a gente faz comida nova todo dia em casa, em panela de ferro, pouco sal etc. Atualmente, ela almoça conosco quando acorda de sua soneca no meio do dia, por volta das 13h!

Bom, aí está como funcionou conosco, espero que ajude outras mães nesta fase como me ajudou na época ler diferentes relatos, porém sempre tirando minhas próprias conclusões e fazendo as adaptações. E o maior objetivo deste relato familiar e da partilha de informações de fontes bacanas foi reforçar que a continuação natural da amamentação pode muito bem conviver com a introdução de alimentos!
 

Introdução de Sólidos, por Dr. Carlos Gonzalez

O Dr. Carlos Gonzalez é um pediatra de nacionalidade espanhola, grande especialista e defensor da amamentação. É fundador e presidente da Asociación Catalana Pro Lactancia Materna e autor de livros muito lindos, como Bésame Mucho, "Mi Nino No Me Come" e "Un Regalo para Toda la Vida: guia de la lactancia materna". Ele costuma responder perguntas enviadas por mães aqui neste fórum aqui.

O trecho a seguir foi retirado do livro Mi Niño No Me Come, ou Meu Filho Não Quer Comer (a tradução é da Flávia Mandic, a partir da edição em inglês My Child Won't Eat)

Os conflitos entre a mãe e o filho durante a amamentação ou uso de mamadeiras podem ser terríveis, mas ainda bem que são pouco freqüentes. A introdução de alimentos sólidos é uma oportunidade nova de perigo e devemos trilhar este caminho com cuidado.
 
Para esclarecer, quando mencionamos “sólidos”, não nos referimos apenas aos alimentos oferecidos ao bebê com uma colher. Usaremos o termo para referir-se a qualquer comida além de leite humano ou leite modificado, mesmo água, chá ou comidas duras como biscoito.
Muitas mães encontram-se sobrecarregadas de informação a respeito de regras, grandes, pequenas e médias envolvendo alimentação de bebês. Elas recebem conselhos de pediatras e enfermeiros, algumas informações muito mais complexas e detalhadas que aquelas dadas pelos especialistas famosos, palpites de família e amigos, bem como as “conversas de comadre” que alertam sobre evitar comidas “reimosas” ou “incompatíveis”.

Incapaz de seguir todas as regras ao mesmo tempo, muitas vezes a mãe opta por rejeitar todas e fazer somente aquilo que ela quer. O risco é de que ela ignore as recomendações realmente importantes. Para evitar tal problema, vou diferenciar claramente entre as opções onde há um grau de consenso em relação à sua importância (baseadas numa combinação de normas internacionais) e aquelas sugestões que parecem úteis, embora outros profissionais possam ter opções diferentes.


Pontos Importantes
Tenha em mente os seguintes pontos, embora eles não devam ser tomados como dogma:
1. Nunca force uma criança a comer.
2. Amamente exclusivamente até 6 meses (sem papinhas, suco, água, chás, etc.).
3. Aos 6 meses, comece (sem forçar) a oferecer outros alimentos, sempre depois da mamada ao seio. Bebês não amamentados devem tomar 500ml de leite artificial por dia.
4. Introduza os alimentos um de cada vez, esperando uma semana entre comidas novas. Comece com quantidades pequenas.
5. Ofereça alimentos que contêm glúten (trigo, aveia, centeio) com precaução.
6. Quando cozinhar para o bebê, escorra bastante o alimento, evitando encher a barriga dele com água.
7. Espere até 12 meses de idade para introduzir alimentos altamente alergênicos (especialmente laticínios, clara de ovo, peixe, soja, amendoim e muitas outras comidas que já causam alergia em membros da família).
8. Não acrescente sal ou açúcar aos alimentos.
9. Continue amamentando por 2 anos ou mais.

Em algumas situações pode-se introduzir sólidos antes de 6 meses (mas nunca antes de 4): quando a mãe trabalha, por exemplo. Ou quando a criança claramente pede para ser alimentada agarrando o alimento e colocando-o na boca sozinha.
 
“Oferecer” significa que, se ele quiser comer, o bebê come, mas se não quiser, não come. Muitas crianças recusam tudo menos o seio até 8 ou 10 meses, muitas vezes mais.

Alimentos sólidos são oferecidos depois da amamentação, não antes, e certamente não em substituição à amamentação. Somente assim você tem certeza de que seu bebê tomará o leite de que precisa. Acredita-se que entre 6-12 meses, o bebê precise de cerca de 500 ml de leite por dia. Claro que isso é uma média, muitos tomam mais e outros ficam bem com menos. Uma criança que toma mamadeira pode facilmente ficar bem com 2 mamadeiras de 250 ml ao dia. Não é razoável, porém, esperar que um bebê amamentado tome 250 ml a cada 12 horas; os seios da mãe ficariam desconfortavelmente cheios. Faz mais sentido para bebês amamentados tomar 100 ml cinco vezes por dia, ou 70 ml sete vezes por dia. Certamente você não sabe (ou não sabia antes de iniciar os sólidos) quanto leite seu bebê mama; mas se ele é amamentado antes da oferta de sólidos, você fica tranqüila sabendo que ele mama o que precisa.

Que comidas devo oferecer primeiro?
Não importa. Não há base científica que suporte a recomendação de um alimento antes de outro. Se você oferecer frutas primeiro, seguidas por cereal, depois frango, você estará seguindo as orientações da ESPGAN (Sociedade Européia de Gastroenterologia e Nutrição Pediátricas). Mas se você der frango, depois legumes e cereais por último, também estará dentro das normas.
Digamos que você decida começar com banana amassada. Depois da amamentação, ofereça ao bebê uma ou duas colheres. No primeiro dia é sempre melhor oferecer só um pouquinho, ainda que ele aceite bem. Se ele recusar a primeira colherada, não insista, mas continue oferecendo a cada um ou dois dias. Se ele aceitar bem, você pode aumentar a quantidade a cada dia. Depois de uma semana, você pode tentar outro alimento, como batata doce ou abacate. Na semana seguinte, pode oferecer um pouquinho de arroz. Cozinhe arroz (melhor ainda, cozinhe até virar papa), sem adicionar sal. Você pode adicionar azeite (ficará mais saboroso e terá mais calorias).
Esta ordem é só um exemplo, você pode inverter, se quiser. Claro, se alguma das comidas causar diarréia ou outros sintomas, ou se o bebê rejeita veementemente, é melhor esperar algumas semanas. Se uma reação mais severa é observada, como uma vermelhidão na pele, consulte o pediatra.
Também não é necessário introduzir uma comida nova a cada semana. Variedade significa um pouco de cereais, um pouco de legumes, um pouco de frutas – mas não é vital que o bebê coma muito de cada grupo. Maçãs não possuem nada diferente das peras e a maioria dos adultos vive bem comendo apenas dois tipos de ceral: arroz e trigo, deixando o resto para o gado. Se seu filho já come frango, você não estará acrescentando nada ao oferecer novilha. Antes de 1 ano, a introdução de muitos alimentos diferentes somente significa comprar mais bilhetes para a loteria da alergia. 
A razão principal de oferecer outros alimentos ao bebê com 6 meses (e não depois) é que alguns bebês precisam de ferro extra. Portanto, seria lógico que comidas ricas em ferro fossem introduzidas primeiro. Por um lado, há carnes com alto teor de ferro orgânico altamente biodisponível. Por outro, há legumes, leguminosas e cereais que contêm ferro inorgânico, mais difícil de ser absorvido a menos que esteja combinado com vitamina C. É por isso que muitos adultos comem a salada primeiro (rica em vitamina C), depois os grãos e legumes, com a sobremesa por último. O que é comumente feito com bebês na Espanha não é uma idéia muito boa, oferecendo a eles somente grãos numa refeição, legumes na outra e fruta na próxima. Quando seu bebê ingere muitos alimentos, é uma boa idéia combiná-los , oferecendo-os numa mesma refeição (não batendo todos juntos no liqüidificador) ao invés de fazer menus monocromáticos (“hora do cereal”). 

E se ele não quer comer comida de bebê?
Não se preocupe, isso é totalmente normal. Não tente forçá-lo. Você talvez tenha sido aconselhada a oferecer sólidos antes do peito, assim ele estará com fome suficiente para comer. Isso não faz o menor sentido, uma vez que o leite materno nutre muito mais que qualquer outro alimento. É por esta razão que usamos o termo “alimentação complementar”. Sólidos não são nada mais que um complemento ao leite materno. Se seu bebê mama e depois rejeita frutas, nada acontece; mas se ele aceita fruta e depois não mama, ele sai perdendo. Mais fruta e menos leite é uma receita para perda de peso.

Desmame: fatos e mitos, por Dra. Elsa Giugliani

A Dra.  Elsa Regina Justo Giugliani é pediatra, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e especialista em Aleitamento Materno pelo IBLCE (International Board of Lactation Consultant Examiners)

O texto é do Boletim Cientifico da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, maio de 2005 e também pode ser encontrado aqui.

O homem é o único mamífero em que o desmame (aqui definido como a cessação do aleitamento materno) não é primariamente determinado por fatores genéticos e instinto, sendo fortemente influenciado por fatores sócioculturais.
Hoje, ao contrário do que ocorreu por pelo menos dois milhões de anos, ao longo da evolução da espécie humana, a mulher opta (ou não) pela amamentação e, influenciada por múltiplos fatores, decide por quanto tempo vai (ou pode) amamentar. Muitas vezes, as preferências culturais (não amamentação, introdução precoce de outros alimentos na dieta da criança, amamentação de curta duração) entram em conflito com a expectativa da espécie. Algumas conseqüências dessa divergência já puderam ser observadas, como desnutrição e alta mortalidade infantis, sobretudo em áreas menos desenvolvidas.
Porém, as conseqüências a longo prazo ainda não são totalmente conhecidas, já que transformações genéticas não ocorrem com a rapidez com que podem ocorrer mudanças de hábitos. Começam a ser mostradas evidências de que o não amamentar segundo as expectativas da espécie pode ter repercussões negativas ao longo da vida dos indivíduos. Assim, a não-amamentação ou amamentação sub-ótima podem favorecer o aparecimento de doenças alérgicas, diversas doenças do sistema imunológico, alguns tipos de cânceres, obesidade, diabete e doenças cardiovasculares, além de interferir negativamente no desenvolvimento oro-facial. Provavelmente, com o aparecimento de novas pesquisas nessa área, outros males serão relacionados com os hábitos "modernos" de alimentação infantil, mas alguns aspectos dificilmente podem ser quantificados, especialmente os relacionados com a psique humana.

Atualmente, em especial nas sociedades ocidentais, a amamentação é vista primordialmente como uma forma de alimentar a criança, sob o controle total dos adultos. Assim, perdeu-se a percepção da amamentação como um processo mais amplo, complexo, envolvendo intimamente duas pessoas e com repercussão na saúde física e no desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, além de repercussões para a saúde física e psíquica da mãe. Hoje, em muitas culturas "modernas", a amamentação prolongada (cujo conceito varia de acordo com a "convenção" da época e do local)freqüentemente é vista como um distúrbio inter-relacional entre mãe e bebê.

Quadro 1 - Sinais sugestivos de que a criança está madura para o desmame mãe e bebê.
Idade maior que um ano.
Menos interesse nas mamadas.
Aceita variedade de outros alimentos.
É segura na sua relação com a mãe.
Aceita outras formas de consolo.
Aceita não ser amamentada em certas ocasiões e locais.
Às vezes dorme sem mamar no peito.
Mostra pouca ansiedade quando encorajada a não amamentar.
Às vezes prefere brincar ou fazer outra atividade com a mãe ao invés de mamar.

Perdeu-se a noção de que o desmame não é um evento e sim um processo, que faz parte da evolução da mulher como mãe e do desenvolvimento da criança, assim como sentar, andar, correr, falar. Nesta lógica, assim como nenhuma criança começa a andar antes de estar pronta, nenhuma criança deveria ser desmamada antes de atingir a maturidade para tal.

Em harmonia com esta linha de pensamento, Dr. William Sears, um antigo pediatra, recomendava: "Não limite a duração da amamentação a um período pré-determinado. Siga os sinais do bebê. A vida é uma série de desmames, do útero, do seio, de casa para a escola, da escola para o trabalho. Quando uma criança é forçada a entrar em um estágio antes de estar pronta, corre o risco de afetar o seu desenvolvimento emocional". Essas palavras sábias podem ter pouco respaldo em sociedades individualistas, que tendem a acelerar o processo de independização do ser humano, substituindo o seio por métodos de auto-consolo como chupetas, paninhos, mantinhas, ursinhos, etc.

Segundo diversas teorias, o período natural de amamentação para a espécie humana seria de 2,5 a sete anos. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde recomenda aleitamento materno por dois anos ou mais, sendo exclusivo nos primeiros seis meses. Apesar dessa recomendação, poucas mulheres no Brasil amamentam por mais de dois anos.

As razões para a não amamentação prolongada variam desde dificuldade em conciliar a amamentação com outras atividades, até crença de que aleitamento materno além do primeiro ano é danoso para a criança sob o ponto-de-vista psicológico. Uma parcela de mães, apesar de demonstrar desejo em continuar a amamentação, sente-se pressionada a desmamar por profissionais de saúde, seus maridos, parentes, vizinhos e amigos.

Para a manutenção do paradigma que sustenta a afirmação de que amamentação prolongada não é natural, foi necessário criar vários mitos, tais como o de que uma criança jamais desmama por si própria, que a amamentação prolongada é um sinal de problema sexual ou necessidade materna e não da criança e que a criança que mama fica muito dependente.

Algumas mães, de fato, desmamam para promover a independência da criança. No entanto, é importante lembrar que o desmame provavelmente não vai mudar a personalidade da criança. Além disso, o desmame forçado pode gerar insegurança na criança, o que dificulta o processo de independização.
O desmame pode ser agrupado em quatro categorias básicas: abrupto, planejado ou gradual, parcial e natural. Sob a ótica de que o desmame é um processo de desenvolvimento da criança, parece razoável afirmar que o ideal seria que ele ocorresse naturalmente, na medida em que a criança vai adquirindo competências para tal. No desmame natural a criança se auto-desmama, o que pode ocorrer em diferentes idades, em média entre dois e quatro anos e raramente antes de um ano.
Costuma ser gradual, mas às vezes pode ser súbito, como por exemplo em uma nova gravidez da mãe (a criança pode estranhar o gosto do leite, que se altera, e o volume, que diminui). A mãe também participa ativamente no processo, sugerindo passos quando a criança estiver pronta para aceitá-los e impondo limites adequados à idade.

O Quadro 1 apresenta os sinais indicativos de que criança pode estar pronta para iniciar o desmame. É importante que a mãe não confunda o auto-desmame natural com a chamada "greve de amamentação" do bebê. Esta ocorre principalmente em crianças menores de um ano, é de início súbito e inesperado, a criança parece insatisfeita e em geral é possível identificar uma causa: doença, dentição, diminuição do volume ou sabor do leite, estresse e excesso de mamadeira ou chupeta. Essa condição usualmente não dura mais que 2-4 dias. Algumas vantagens do desmame natural encontram-se no Quadro 2.

Quadro 2 - Vantagens do desmame natural
Transição tranqüila, menos estressante para a mãe e a criança.
Preenche as necessidades da criança até elas estarem maduras para o desmame.
Fortalece a relação mãe-filho.
Ajuda a mãe a ser menos ansiosa com relação aos estágios de desenvolvimento de seu filho.

O desmame abrupto é desencorajado, pois se a criança não está pronta, ela
pode se sentir rejeitada pela mãe, gerando insegurança e muitas vezes rebeldia. Na mãe, o desmame abrupto pode precipitar ingurgitamento mamário, bloqueio de ducto lactífero e mastite, além de tristeza ou depressão, por luto pela perda da amamentação ou por mudanças hormonais.
Muitas vezes a mulher se depara com a situação de querer ou ter que desmamar
antes de a criança estar pronta. Nesses casos, o profissional de saúde, em especial o pediatra, deve respeitar o desejo da mãe e ajudá-la nesse processo. O Quadro 3 apresenta os fatores que facilitam o encorajamento do bebê para o desmame.

A técnica utilizada para fazer a criança desmamar varia de acordo com a idade da mesma. Se a criança for maior, o desmame pode ser planejado com ela. Pode-se propor uma data, oferecer uma recompensa e até mesmo uma festa. A mãe pode começar não oferecendo o seio, mas também não recusando. Pode também encurtar as mamadas e adiá-las. Mamadas podem ser suprimidas distraindo a criança com brincadeiras, chamando amiguinhos, entretendo a criança com algo que lhe prenda a atenção. A participação do pai no processo, sempre que possível, é importante.

A mãe pode também evitar certas atitudes que estimulam a criança a mamar, por exemplo, não sentar na poltrona em que costuma amamentar. Algumas vezes, o desmame forçado gera tanta ansiedade na mãe e no bebê, que é preferível adiar um pouco mais o processo, se possível. A mãe pode, também, optar por restringir as mamadas a certos horários e locais.

Quadro 3 - Encorajando o bebê a desmamar: facilitadores
Mãe segura de que quer (ou deve) desmamar.
Entendimento da mãe de que o processo pode ser lento e demandar energia, tanto maior quanto menos pronta estiver a criança.
Flexibilidade, pois o curso é imprevisível.
Paciência (dar tempo à criança) e compreensão.
Suporte e atenção adicionais à criança – mãe não deve se afastar neste período.
Ausência de outras mudanças ocorrendo, como, por exemplo, controle dos esfíncteres.
Sempre que possível, desmame gradual, retirando uma mamada do dia a cada 1-2 semanas.

As mulheres devem estar preparadas para as mudanças físicas e emocionais que o desmame pode desencadear, tais como: mudança de tamanho das mamas, mudança de peso e sentimentos diversos, tais como alívio, paz, tristeza, depressão, culpa e arrependimento.

Já se avançou muito na valorização do aleitamento materno nos últimos tempos. A recomendação da duração da amamentação passou de 10 meses na década de 30 para dois anos, ou mais, nos dias de hoje. Atualmente, fala-se em desmame natural como a forma ideal de desmame, sem especificar uma idade mínima ou máxima para que esse processo ocorra.

Apesar desse avanço, ainda estamos longe de encararmos o desmame como um marco do desenvolvimento da criança. Para chegarmos a este estágio, faz-se necessário entender e enfrentar as circunstâncias que, segundo Souza e Almeida, "ultrapassam a natureza e desafiam a cultura e a sociedade".
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