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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

dia das crianças: compartilhe brincadeiras!

A Inaê tem 2 anos e 7 meses, e ainda não está exposta à data comercial de “dia das crianças”. Na verdade, ela sequer sabe que existe um “dia das crianças”, inventado pra vender (ainda mais) brinquedos. Pra ela, todo dia é dia das crianças, é dia de ser criança. E ninguém precisa de ganhar brinquedo novo pra isso!

É claro que ela tem seus brinquedos, alguns muito queridos, e que ela do alto de sua fase egocêntrica vai “proteger” possessivamente em certas situações, diante de certas crianças: “é meu!”. Não porque seja egoísta, óbvio, mas porque na sua idade ainda se considera o próprio centro de seu mundo.

Tem até brinquedos de mais valor afetivo, como a boneca Ana Luísa que foi da mamãe (e agora a vovó acaba de levar de volta pra Brasília pra consertar no hospital dos brinquedos, pra que ela dure mais um tantão), ou a sua indefectível gatinha de pano, “herdada” da amiga Toy depois que ela se apegou de um jeito nunca visto antes, e que atualmente ela leva pra cima e pra baixo (mas sem chamar de Hello Kitty, pois ela nem sabe que é uma marca, e pra ela é simplesmente “minha filha” ou “minha gatinha” e mais recentemente, passou a ser Clarice, ou melhor: Calice).

Mas o mais importante pra ela – como pra qualquer criança – é mesmo o brincar. Ou seja, mais a situação (e a companhia) do que os objetos em si.

E, como por ora fizemos essa opção de acompanhar de modo integral sua criação, talvez seja mais fácil observar de perto o papel destes brincares no seu cotidiano de ser criança.

Aí vão alguns exemplos caseiros pra refletir e compartilhar:

* Criança não precisa possuir o brinquedo novo pra se divertir com ele: claro que criança gosta de novidade, ué! Mas isso não significa que ela precisa ganhar todo novo brinquedo que desperte seu interesse, não é? Muita gente confunde isso e quer comprar tudo que parece ter acabado de interessar a criança. Algumas crianças, dependendo do histórico de carência afetiva, percebem isso e ficam pedindo tudo que veem, e aí qualquer ida ao supermercado vira um pesadelo. E depois, no caso de quem pode comprar, fica aquele monte de bugiganga que a criança nem dá valor.
A Inaê anda comigo pra cima e pra baixo (até porque não tem como ser diferente), e a gente entra nos lugares, inclusive loja de brinquedo, e se for o caso, ela vê, até pega, mata a curiosidade, e no fim vai embora sem levar, e tudo certo!

Mas tem umas ideias que eu acho geniais, por ex. brinquedotecas e bibliotecas públicas, em que dá pra curtir brinquedos, livrinhos e brincadeiras, frequentemente pedagógicos e/ou artesanais, e muitas outras crianças também poderão curtir isso. Não é demais?
Na falta de (muitos) mais espaços coletivos e públicos assim, dá pra improvisar, e eu já frequentei muita seção infantil de livraria pra gente se divertir por horas sem precisar consumir.

Outra ideia bacana são feiras de trocas de brinquedo, como as promovidas em várias cidades do Brasil no último 6 de outubro por voluntários, a partir de um convite lançado pelo Instituto Alana e apoiado pelo movimento Infância Livre de Consumismo (e se a gente estivesse em Brasília teria ido aí ao Jardim Botânico com certeza!).

* Imaginação vale mais que brinquedos prontos: essa parece meio lugar-comum, mas até quem tenta estar atento a isso às vezes se surpreende com o poder da criatividade infantil. Sabemos que criança não precisa de boneca que fala sozinha, nem de carrinho que anda por controle remoto. Por aqui a gente não tem nada disso, mas a Inaê tem suas bonequinhas, panelinhas etc. e é engraçado demais de vê-la inventando mil diálogos com suas bonequinhas, inclusive fazendo as diferentes vozes.

Mas o que a gente pode perceber nas atuais experiências muito ao ar livre e com maior liberdade pro brincar é que a viagem infantil vai muito além, e praticamente tudo vira brinquedo: qualquer graveto vira bonequinho, sementinha vira comidinha, coquinho vira panelinha, e assim vai. Pra não falar de todos os bichinhos que a fascinam, como formiguinhas, besouros, pássaros, peixinhos.
Aqui tenho me esforçado pra respeitar mais essa liberdade, inclusive pra sair um pouco do plástico made in china que acaba sendo meio onipresente mesmo quando a gente quer fugir dele e deseja partir pra matérias mais naturais, como madeira ou pano. Então, por ex. a Inaê até tem baldinho, pázinha etc. de ir à praia, mas tem sido fascinante ver como se diverte com coquinhos, frutas, conchinhas, pauzinhos, por isso se ela não pede eu agora nem tiro o baldinho da mochila.

Fazer os próprios brinquedos, usando sucata, tinta, cartolina etc., também é outra forma de exercitar essa imaginação, cada um dentro das suas possibilidades de trabalho manual, mas as possibilidades são infinitas. Eu por ex. sou mais da parte de desenhar e pintar, então vez por outra me aventuro por aqui, e até casinha já tentei fazer, com a ajuda dela!
 
* Vivências cotidianas podem virar brincares: criança vive num mundo lúdico, em que tudo pode se tornar brincadeira, até situações típicas do dia-a-dia que a rigor não o seriam. Criança não trabalha, mas como eu já falei aqui, criança pode ser envolvida de forma lúdica em tarefas ou situações que os adultos tenham que fazer naquele determinado momento. Além de ser um maravilhoso exercício do faz-de-conta, também é uma forma de envolvê-la no que os pais estão fazendo e aqui volta pra questão da presença dos pais que o movimento Infância Livre de Consumismo tão bem pautou neste texto. Criança brinca sozinha numa boa, mas muitas vezes ela quer a presença familiar pra brincar. Então, dá pra envolvê-la na feitura de um pão ou um bolo, ou na lavagem de roupa, ou qualquer outra tarefa da casa (como abrir côco ou mexer com a enxada, como os espertíssimos João e Tomás), obviamente adaptando de acordo com o contexto familiar, a faixa etária, e os próprios gostos da criança. A Inaê adora, e frequentemente depois a gente a vê reproduzindo a situação nas suas brincadeiras e historinhas.

Ou então, dá pra transformar em grande brincadeira alguma obrigação do cotidiano, algo que a criança inicialmente não estaria muito a fim, como por ex. aqui em casa escovar os dentes, mas aí com grande habilidade (paterna) ela acaba se divertindo e rindo um monte!

Só que às vezes a gente está com pressa de acabar algo, ou não está com tanta criatividade ou paciência assim (e todo mundo tem seus dias nublados, assim como eu tenho). Porém, o esforço vale a pena. Porque a escolha é nossa: pode-se insistir em acabar o que quer fazer e no fim acabar até gerando uma situação estressante pra todos. Ou pode-se tentar envolver a(s) criança(s), e, se não der certo, parar um pouco e dar a atenção que ela está pedindo, brincando do que ela realmente está a fim de brincar, e logo ela segue brincando sozinha ou de outra coisa, e aí sim você consegue acabar o que ia fazer com todo mundo numa boa tendo só atrasado um pouco, em vez de interromper tudo de vez!

E que a gente possa seguir compartilhando brincares com criatividade e envolvimento da família, amanhã e sempre, porque todo dia é dia de ser criança (até pra quem já cresceu).

(Esta postagem foi inspirada pela blogagem coletiva proposta pelo movimento Infância Livre de Consumismo. Você também pode participar e se informar mais aqui.)

Casa Nesguinha em Itacaré

E após um breve interlúdio no Pé da Serra Grande, chegamos à terceira etapa da viagem, para uma temporada em Itacaré. Eu não conhecia este famoso destino turístico do sul da Bahia, e confesso que me surpreendi e acabei me rendendo a seus encantos!

Mesmo com sinais daquele tipo predador de turismo, a cidadezinha ainda mantém certa aura da adorável vila de pescadores que deve ter sido décadas atrás. O bairro da Concha, apesar de concentrar a maior parte das pousadas eco-chiques e restaurantes descolados, mantém as ruaszinhas de terra, que até agora resistiram a serem paralelepipedadas (até quando, não se sabe) como o centrinho da cidade.
 
Foi na Concha, logo na rua de trás da orla, que encontramos nossa nova casinha, um chalézinho pra lá de simpático, com muito, muito verde, e pé de graviola, jenipapo, açaí, banana, mamão, pitanga...
Aqui temos direito a visitas de beija-flores e outros pássaros, micos, sapinhos, lagartixas, aranhas (e mosquitos, claro). E até uma gatinha que lembra muito a querida Frida, dos avós de Brasília.
Ter jardim é tão delicioso, né? Tem dia que nem precisa sair de casa pra se divertir!

E nossos vizinhos? Um casal de bascos super-gracinha, Ainhoa e Aitor, com sua doce cadela de três patas Sira, que adora brincar de jogar coco com Inaê – e vice-versa.

Aqui em Itacaré recuperamos plenamente nossa vida bicicletal, que andou bem estagnada em Olivença, não só porque aquilo lá era um ovo que valia mais atravessar a pé, mas também porque a rodovia estadual que corta a vila intimidava pegar a bici pra ir pras praias.

E falando de praias, aliás... quanta diferença! Saindo das praias bem sem gracinha do sul de Ilhéus – além de tudo desfavorecidas pela época das chuvas de julho e agosto, que deixam o mar meio amarronzado e os dias cinzentos até quando o sol aparece –, por aqui voltamos a ver as praias lindas que tornam o sul da Bahia tão cobiçado. Na minha primeira impressão até aqui (e vejam que não conheci quase nada), mais lindas do que as de Arraial ou Barra Grande (Maraú), pra citar outras famosas.

Até a praia mais “urbana”, a pequenina praia da Concha, já me encantou de cara, com atrativos que aprecio numa praia, como o mar calminho (por ser uma baía), bom pra deixar a Inaê bem livre, e muita vegetação típica de mata atlântica, com árvores de chapéu-de-sol e outras, em vez daquelas praias só com coqueiros.

Ainda no raio muito próximo, facilmente acessível a pé ou de bici, as lindas praias do Rezende e Tiririca, tudo pico de surfista, de mar bem revolto mais no fundo, mas que podem ser ótimas pra criança na maré baixa, quando se formam lindas piscinas naturais cheias de peixinhos e o mar fica daquele azul-esverdeado que sempre sonhei encontrar aqui na Bahia e ainda não tinha visto. E ainda, a divertida praia da Ribeira, também ótima pra ir com criança pequena, porque dá pra alternar o banho de mar com um delicioso banho no rio rasinho e clarinho.
Indo pras praias consideradas mais "rurais", como Prainha, Engenhoca ou Itacarezinho, aí é pé na trilha, ou chegar de carro, ou as duas coisas.
E a Inaê se revelou uma grande trilheira!

Em Itacaré também voltamos a cozinhar em casa, e tenho gostado muito disso. A temporada dos almoços na Oca foi legal, mas é muito bom poder cozinhar a própria comida. O Nes também se aventura a fazer pães e eu sempre reinvento alguma receita de bolo, e agora também pão de queijo - sempre com nossa ajudante preferida.
 
Enfim, os assuntos se acumulam na pauta desse bloguinho, e assim nem deu pra falar mais do que inicialmente nos trouxe até Itacaré, que foram os contatos com o pessoal da Casa do Boneco, que integra a Rede Mocambos, e agora em setembro promoveu um encontrinho de crianças. Mas isso fica prum próximo post!

Abaixo, mais um mosaico de registros da nova temporada.
 
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