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terça-feira, 19 de abril de 2011

introdução de alimentos e continuação da amamentação: um relato familiar

Como introduzir o bebê no maravilhoso novo mundo dos alimentos sem que isso prejudique a continuidade da amamentação (até os 2 anos ou mais, como recomenda a própria Organização Mundial de Saúde)?
Esta era minha principal dúvida quando a Inaê foi chegando perto de 6 meses. Como sabia que o padrão é introduzir nesta época, comecei a me informar bastante sobre o tema, conversando com as duas pediatras dela (uma da rede pública, outra particular – ambas amorosas e respeitosas, mesmo quando discordamos), e trocando informações com outras mães com quem tenho afinidade pra ter uma ideia, mesmo sabendo que cada caso é um caso. Também li coisas bem legais na época, como o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos, do Ministério da Saúde (interessantíssimo pra identificar as diferenças das culturas regionais em quando e como se inicia a complementação e o desmame, e os textos da dra. Elsa Giugliani (responsável pelo Depto de Aleitamento Materno, da Sociedade Brasileira de Pediatra) e, principalmente, do maravilhoso e querido dr. Carlos Gonzales (fundador da Associação Catalana Pró-Amamentação), que postei aí abaixo. E também tem este longo e lindo post sobre "Comilanças de Bebê" da amiga Cláudia Rodriguez lá no BuenaLeche.
Meu objetivo era que tudo fosse feito da forma mais lenta e gradual possível, pois inicialmente tive muito medo que um processo rápido demais acarretasse desmame precoce.
Isso porque, infelizmente, via vários casos de mães, incluindo algumas pró-amamentação e desmame natural, cujos bebês desmamaram totalmente antes de 1 ano, e que hoje sei que é altamente improvável de isso acontecer por si só.
Algumas mães até interpretam como desmame “natural” o que na verdade ocorreu por circunstâncias externas ao ritmo do bebê, e que podem ser muito variadas, por ex.: volta da mãe ao trabalho, complementação com mamadeira etc., ou ainda, num plano mais inconsciente, vontadezinha bem lá no fundo da mãe desmamar, que acaba “forçando” um pouco a barra do bebê – como eu já discuti antes aqui, algo relacionado aos conflitos em torno de aleitamento livre demanda X disponibilidade integral.

Algumas dúvidas que eu tinha na época, e coisas que acabei desmitificando no caminho:


1 – desmame ou complementação?
 O uso da palavra “desmame” hoje me parece altamente equivocado, pois a introdução de alimentos NÃO significa que o bebê vai parar (ou começar a parar) de mamar. Por isso é que nas comunidades pró-amamentação se fala em “introdução de alimentos complementares”.
Pra mim, foi muito esclarecedor entender que, até mais ou menos 1 ano, o leite materno ainda é o principal alimento do bebê, e os demais alimentos devem se tratados como o que realmente são: complemento.

2 – a introdução de alimentos complementares precisa mesmo começar por volta de 6 meses?
Nas págs. 27-29 do Guia do MS, há argumentos dizendo da queda calórica do leite materno a partir dos 6 meses, mas já ouvi casos de mulheres que optaram por manter o exclusivo além disso, até perto de 1 ano! No nosso caso, acabamos começando só lá pelos 6 meses e meio, quase 7, quando a Inaê finalmente sentou sozinha, o que pra gente foi um super-sinal do momento mais propício.
Também há casos de bebês que demonstram um incrível interesse antes disso. O recomendado é mesmo esperar por volta de 6 meses, mas nunca antes dos 4, nem mesmo chás, sucos ou água – caso o bebê mame no peito livre demanda, ele não precisa de nada disso, não importe o que digam avós, tias ou vizinhas! A partir daí, importante é que a introdução de alimentos só comece quando a mãe assim decidir, observando sempre os sinais do bebê (e não por pressão dos familiares ou recomendação dos pediatras).

3 – quando finalmente a complementação for iniciada, como deve ser exatamente?
Primeiro, não há dogmas. Achei muito interessante que a pediatra da Inaê não me “ensinou” nada, apenas relatou como foi com ela (e ela amamentou a filha até 2,5 anos, ou seja, fez na prática o que estou falando aqui). Você pode fazer como quiser, primeiro fruta ou primeiro legume, repetir o mesmo alimento vários dias ou inserir um diferente a cada dia, começar pelo lanche da manhã ou pelo almoço etc. etc. As possibilidades são muitas e vão depender dos arranjos e estilos da família.
A única coisa que acho mais importante é ter consciência de que esta é uma fase de EXPERIMENTAÇÃO. Ofereça tudo que for interessante ao bebezinho: se ele quiser, ótimo, se ele não quiser, não tem problema, ofereça uma próxima vez, se ele realmente não quiser nada, tudo bem, ele mama! No outro dia, ele experimenta, ou daqui a uma semana, e tudo certo! Sem estresse.

4 – começar por frutas ou legumes? E os outros alimentos?
Isso é cultural, não tem regra, eu no começo tendia a começar pelas frutas por serem mais docinhas e próximas do sabor doce, naquela linha de transição gradual, porém também são mais ácidas.
O primeiro alimento escolhido aqui em casa foi a abóbora, cozida no vapor (cuscuzeira) e amassadinha. Dei peito antes E depois dela experimentar. No dia seguinte, repetimos a experiência. Com poucos dias, fomos introduzindo novos alimentos (batata-doce, chuchu, arroz integral, banana), sempre uma vez ao dia, e apenas como experimentação, sem pressa.
Há uma linha que pede pra evitar gluten (presente nos cereais) inicialmente pra evitar possíveis alergias, outra que diz que há uma janela de oportunidade pra introduzir e evitar futuras alergias. Fomos pra segunda e logo introduzimos cereais: arroz integral, pão integral, aveia ou quinoa com frutas etc. Também introduzimos relativamente rápido para experimentação de ovos e peixes.
A única restrição que realmente fizemos foi ao mel e aos laticínios, mas agora que fez 1 ano ela já experimentou mel no suco... e iogurte (claro que adorou, né?).

5 – sopas e sucos X sólidos:
O Guia do MS e os pediatras pró-amamentação são enfáticos em não recomendar sucos nem as famosas sopinhas dos tempos da vovó.
A explicação é simples e faz todo sentido, se a comida for líquida demais o bebê enche a barriguinha de líquido e ingere muito menos nutriente. Posso dar meu testemunho das vezes em que dou suco à Inaê: como tem o docinho da fruta, ela adora, aí não é só pra matar a sede como os golinhos de água, ela fica bebendo, bebendo, bebendo...! Por isso, pra matar a sede, nada melhor do que água, ou chás. Eu adoro fazer chá de hortelã pra ela e oferecer frio (e sem açúcar, óbvio), é como um suco deliciosamente refrescante!
Para legumes, carninha, arroz etc., basta dar uma amassadinha ou cortar/desfiar, não precisa nem triturar, muito menos colocar água e fazer sopa.
Para frutas, é preferível o bebê comer ou chupar a fruta in natura, em vez de transformada em suco (com exceção de frutas em que não precisa adicionar água pra fazer suco, por ex. melancia).

6 – copos X mamadeiras:
A recomendação de não usar (aliás, nem compre e se ganhar, desfaça-se logo pra não cair em tentação de usar) mamadeiras e chupetas têm a ver com a sucção diferente que elas proporcionam, que acaba confundindo e até favorecendo o desmame total. Conheço um caso de mãe que precisou tomar remédio forte por 3 dias e deu mamadeira, quando voltou a aleitar o bebê de apenas 8m não queria mais!
Então, o que fazer nos casos em que não tem o peito?
Dê na colherinha, ou no copinho!
Existe até um treco tchop-tchura, chamado “copo de transição” ou “copo de treinamento”. A Inaê tem 2 desses da marca NUK e foi neles que começou a entrar no maravilhoso mundo da água e dos chás (e eventualmente sucos). Não sei exatamente por que são de transição, mas desconfio pela dificuldade em sugar, tem que fazer força mesmo (já testei), e são anti-vazamento.
Mais recentemente ela até prefere o copo mesmo, mas aí ainda precisa de um pouco de ajuda pra não derramar tudo, porém a gente encoraja que é assim que vai aprendendo. O que também tem a ver com o ponto seguinte, que é:

7 – autonomia!
Gente, bebês ADORAM segurar sozinhos a comida, e mesmo que não consigam bem, gostam de tentar. É muito legal permitir que eles façam isso desde o começo. Aqui em casa, passamos muito, muito rápido pela fase das papinhas amassadinhas, pois Inaê gosta mesmo é do alimento cortadinho, se possível que ela mesma possa segurar. Enquanto isso, a gente continua a dar a maior parte de colher, mas o importante é que ela tenha a experiência de segurar que ela gosta tanto.
A primeira refeição que consolidamos por aqui foi o café da manhã, que geralmente começava com uma meia laranja lima (descascada e sem sementes) que a própria Inaê segurava sozinha pra chupar, antes de comer banana ou mamão com aveia, e depois um pedacinho de pão que ela também pegava com as mãozinhas. Aos poucos foi pegando sozinha de tudo: frutas (algumas são ótimas pra segur ar, como manga), pão, brócolis, cenoura, carne, até osso de galinha (só tome cuidado pra tirar aquele osso agulhinha).
Tem dois tipos de argumento geralmente usados contra esta autonomia relativa do bebê.
Um é o do medo do bebê engasgar. Ora, é claro que o bebê pode engasgar, a Inaê já engasgou com uma uva e eu tive que meter a mão lá na goela dela! É por isso que se trata de uma autonomia supervisionada. Você não vai deixar o bebezinho muito novinho totalmente sozinho enquanto experimenta algum alimento, vai? Então, se você está ali ao lado, tomando cuidado pra cortar pedaços num tamanho que não engasgue e vendo se mastiga e engole direitinho, não há por que privá-lo da experiência de um pouquinho de autonomia.
Outro é o da proibição do bebê se lambuzar. Realmente, se você der um alimento (principalmente um bem lambuzento, tipo uma manga ou banana ou uma coxa de galinha) pro bebê segurar e chupar, provavelmente depois vai ter que lavar as mãozinhas e talvez até trocar de roupa. Mas na boa, pra mim isso é nada diante da carinha iluminada destas criaturinhas felizes que só elas em seus primeiros momentos de conquista!
Ah, e aos poucos eles vão adquirindo mais destreza e novos interesses, por ex. a Inaê anda numa fase que adora "compartilhar" a comida comigo ou outras pessoas, cada vez que eu mordo ou mastigo algo que ela me deu ela se diverte horrores! Não é muito mais divertido a hora da comida assim?

8 – companhia!
Aqui em casa comer é uma experiência totalmente relacionada a estar junto e ter prazer. Bom, todo mundo sabe que eu e o Nes somos bons de garfo, pois bem a Inaê está saindo igualzinha, e isso pra mim é uma primeira lição, que os pais são modelos pros filhos (pro bem ou pro mal). A gente adora comer e comemos de tudo. Resultado: temos uma pequena DRAGA aqui em casa, que come de tudo e se interessa em se experimentar de tudo. Acredito vivamente que o exemplo dos pais faz a diferença (inclusive para as besteiras, então nada de refrigerante, açúcar etc., quanto menos contato com doces e junk food agora, melhor pro bebê nos seus hábitos futuros, quando a oferta será quase inevitável!)
Não lembro exatamente quando, mas muito rápido a gente parou de fazer comida “especial” de bebezinho, tipo cozida no vapor à parte e amassada. Em questão de semanas, ela passou a comer o mesmo que nós, apenas amassando ou desfiando quando fosse o caso – mesmo porque a gente faz comida nova todo dia em casa, em panela de ferro, pouco sal etc. Atualmente, ela almoça conosco quando acorda de sua soneca no meio do dia, por volta das 13h!

Bom, aí está como funcionou conosco, espero que ajude outras mães nesta fase como me ajudou na época ler diferentes relatos, porém sempre tirando minhas próprias conclusões e fazendo as adaptações. E o maior objetivo deste relato familiar e da partilha de informações de fontes bacanas foi reforçar que a continuação natural da amamentação pode muito bem conviver com a introdução de alimentos!
 

2 comentários:

  1. Amiga, a minha pequena comilona-e-mamona de 2a4m que o diga: dá sim pra comer muito e bem sem desmamar!!!

    Aliás, tenho observado que criança que mama come muito melhor, tanto em qualidade como em quantidade (ou será pura coincidência???)

    E dá-lhe peito!!!!!!!!

    Bjokas

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  2. Adorando o jeito de vocês com Inaê. Desconfio fortemente que a relação dos pais com a comida tem a ver com a relação dos filhotes com a comida. A relação NA relação com a comida principalmente. Tem gente que gosta de comer, mas não curte curtir comer uma comida familiar em fase de bebês.

    Aqui em casa rolou uma coisa interessante com as frutas. Eu gosto de frutas mais macilentas; banana, figo, manga, sapoti...O pai chegadérrimo nas cítricas; laranja, bergamota, ameixa...Mas nós dois desenvolvemos o hábito de dividir esses momentos de comer frutas com os três filhos. Eles todos têm o paladar mais aberto do que o nosso e comem frutas do pai e frutas da mãe até hoje, já grandes.

    Realmente fico condoída pelas crianças que são carimbadas como "comedoras de vento", "comedoras só de porcarias" etc. Educação alimentar existe e pode ser chata e ter padrões inconscientes de comportamento boicotador como qualquer outra área na relação pais e filhos.

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