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sexta-feira, 29 de abril de 2011

meu coração que bate fora do peito




não é pra entrar, mas antes pra fugir do inevitável climão "dia das mães" e lembrar que:

- todo dia é dia de se encantar com a delicadeza leve da brincadeira, das gracinhas, de apertar bem ao peito, encher de beijinhos, rolar junto, rir junto, estar junto

- todo dia é dia de se emocionar com a força de um amor sem medida, sem condição pré ou pós, sem explicação, sem fim
- todo dia é, enfim, dia de maternar e ser maternado!

beijinhos maternos e mamíferos!

terça-feira, 19 de abril de 2011

introdução de alimentos e continuação da amamentação: um relato familiar

Como introduzir o bebê no maravilhoso novo mundo dos alimentos sem que isso prejudique a continuidade da amamentação (até os 2 anos ou mais, como recomenda a própria Organização Mundial de Saúde)?
Esta era minha principal dúvida quando a Inaê foi chegando perto de 6 meses. Como sabia que o padrão é introduzir nesta época, comecei a me informar bastante sobre o tema, conversando com as duas pediatras dela (uma da rede pública, outra particular – ambas amorosas e respeitosas, mesmo quando discordamos), e trocando informações com outras mães com quem tenho afinidade pra ter uma ideia, mesmo sabendo que cada caso é um caso. Também li coisas bem legais na época, como o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos, do Ministério da Saúde (interessantíssimo pra identificar as diferenças das culturas regionais em quando e como se inicia a complementação e o desmame, e os textos da dra. Elsa Giugliani (responsável pelo Depto de Aleitamento Materno, da Sociedade Brasileira de Pediatra) e, principalmente, do maravilhoso e querido dr. Carlos Gonzales (fundador da Associação Catalana Pró-Amamentação), que postei aí abaixo. E também tem este longo e lindo post sobre "Comilanças de Bebê" da amiga Cláudia Rodriguez lá no BuenaLeche.
Meu objetivo era que tudo fosse feito da forma mais lenta e gradual possível, pois inicialmente tive muito medo que um processo rápido demais acarretasse desmame precoce.
Isso porque, infelizmente, via vários casos de mães, incluindo algumas pró-amamentação e desmame natural, cujos bebês desmamaram totalmente antes de 1 ano, e que hoje sei que é altamente improvável de isso acontecer por si só.
Algumas mães até interpretam como desmame “natural” o que na verdade ocorreu por circunstâncias externas ao ritmo do bebê, e que podem ser muito variadas, por ex.: volta da mãe ao trabalho, complementação com mamadeira etc., ou ainda, num plano mais inconsciente, vontadezinha bem lá no fundo da mãe desmamar, que acaba “forçando” um pouco a barra do bebê – como eu já discuti antes aqui, algo relacionado aos conflitos em torno de aleitamento livre demanda X disponibilidade integral.

Algumas dúvidas que eu tinha na época, e coisas que acabei desmitificando no caminho:


1 – desmame ou complementação?
 O uso da palavra “desmame” hoje me parece altamente equivocado, pois a introdução de alimentos NÃO significa que o bebê vai parar (ou começar a parar) de mamar. Por isso é que nas comunidades pró-amamentação se fala em “introdução de alimentos complementares”.
Pra mim, foi muito esclarecedor entender que, até mais ou menos 1 ano, o leite materno ainda é o principal alimento do bebê, e os demais alimentos devem se tratados como o que realmente são: complemento.

2 – a introdução de alimentos complementares precisa mesmo começar por volta de 6 meses?
Nas págs. 27-29 do Guia do MS, há argumentos dizendo da queda calórica do leite materno a partir dos 6 meses, mas já ouvi casos de mulheres que optaram por manter o exclusivo além disso, até perto de 1 ano! No nosso caso, acabamos começando só lá pelos 6 meses e meio, quase 7, quando a Inaê finalmente sentou sozinha, o que pra gente foi um super-sinal do momento mais propício.
Também há casos de bebês que demonstram um incrível interesse antes disso. O recomendado é mesmo esperar por volta de 6 meses, mas nunca antes dos 4, nem mesmo chás, sucos ou água – caso o bebê mame no peito livre demanda, ele não precisa de nada disso, não importe o que digam avós, tias ou vizinhas! A partir daí, importante é que a introdução de alimentos só comece quando a mãe assim decidir, observando sempre os sinais do bebê (e não por pressão dos familiares ou recomendação dos pediatras).

3 – quando finalmente a complementação for iniciada, como deve ser exatamente?
Primeiro, não há dogmas. Achei muito interessante que a pediatra da Inaê não me “ensinou” nada, apenas relatou como foi com ela (e ela amamentou a filha até 2,5 anos, ou seja, fez na prática o que estou falando aqui). Você pode fazer como quiser, primeiro fruta ou primeiro legume, repetir o mesmo alimento vários dias ou inserir um diferente a cada dia, começar pelo lanche da manhã ou pelo almoço etc. etc. As possibilidades são muitas e vão depender dos arranjos e estilos da família.
A única coisa que acho mais importante é ter consciência de que esta é uma fase de EXPERIMENTAÇÃO. Ofereça tudo que for interessante ao bebezinho: se ele quiser, ótimo, se ele não quiser, não tem problema, ofereça uma próxima vez, se ele realmente não quiser nada, tudo bem, ele mama! No outro dia, ele experimenta, ou daqui a uma semana, e tudo certo! Sem estresse.

4 – começar por frutas ou legumes? E os outros alimentos?
Isso é cultural, não tem regra, eu no começo tendia a começar pelas frutas por serem mais docinhas e próximas do sabor doce, naquela linha de transição gradual, porém também são mais ácidas.
O primeiro alimento escolhido aqui em casa foi a abóbora, cozida no vapor (cuscuzeira) e amassadinha. Dei peito antes E depois dela experimentar. No dia seguinte, repetimos a experiência. Com poucos dias, fomos introduzindo novos alimentos (batata-doce, chuchu, arroz integral, banana), sempre uma vez ao dia, e apenas como experimentação, sem pressa.
Há uma linha que pede pra evitar gluten (presente nos cereais) inicialmente pra evitar possíveis alergias, outra que diz que há uma janela de oportunidade pra introduzir e evitar futuras alergias. Fomos pra segunda e logo introduzimos cereais: arroz integral, pão integral, aveia ou quinoa com frutas etc. Também introduzimos relativamente rápido para experimentação de ovos e peixes.
A única restrição que realmente fizemos foi ao mel e aos laticínios, mas agora que fez 1 ano ela já experimentou mel no suco... e iogurte (claro que adorou, né?).

5 – sopas e sucos X sólidos:
O Guia do MS e os pediatras pró-amamentação são enfáticos em não recomendar sucos nem as famosas sopinhas dos tempos da vovó.
A explicação é simples e faz todo sentido, se a comida for líquida demais o bebê enche a barriguinha de líquido e ingere muito menos nutriente. Posso dar meu testemunho das vezes em que dou suco à Inaê: como tem o docinho da fruta, ela adora, aí não é só pra matar a sede como os golinhos de água, ela fica bebendo, bebendo, bebendo...! Por isso, pra matar a sede, nada melhor do que água, ou chás. Eu adoro fazer chá de hortelã pra ela e oferecer frio (e sem açúcar, óbvio), é como um suco deliciosamente refrescante!
Para legumes, carninha, arroz etc., basta dar uma amassadinha ou cortar/desfiar, não precisa nem triturar, muito menos colocar água e fazer sopa.
Para frutas, é preferível o bebê comer ou chupar a fruta in natura, em vez de transformada em suco (com exceção de frutas em que não precisa adicionar água pra fazer suco, por ex. melancia).

6 – copos X mamadeiras:
A recomendação de não usar (aliás, nem compre e se ganhar, desfaça-se logo pra não cair em tentação de usar) mamadeiras e chupetas têm a ver com a sucção diferente que elas proporcionam, que acaba confundindo e até favorecendo o desmame total. Conheço um caso de mãe que precisou tomar remédio forte por 3 dias e deu mamadeira, quando voltou a aleitar o bebê de apenas 8m não queria mais!
Então, o que fazer nos casos em que não tem o peito?
Dê na colherinha, ou no copinho!
Existe até um treco tchop-tchura, chamado “copo de transição” ou “copo de treinamento”. A Inaê tem 2 desses da marca NUK e foi neles que começou a entrar no maravilhoso mundo da água e dos chás (e eventualmente sucos). Não sei exatamente por que são de transição, mas desconfio pela dificuldade em sugar, tem que fazer força mesmo (já testei), e são anti-vazamento.
Mais recentemente ela até prefere o copo mesmo, mas aí ainda precisa de um pouco de ajuda pra não derramar tudo, porém a gente encoraja que é assim que vai aprendendo. O que também tem a ver com o ponto seguinte, que é:

7 – autonomia!
Gente, bebês ADORAM segurar sozinhos a comida, e mesmo que não consigam bem, gostam de tentar. É muito legal permitir que eles façam isso desde o começo. Aqui em casa, passamos muito, muito rápido pela fase das papinhas amassadinhas, pois Inaê gosta mesmo é do alimento cortadinho, se possível que ela mesma possa segurar. Enquanto isso, a gente continua a dar a maior parte de colher, mas o importante é que ela tenha a experiência de segurar que ela gosta tanto.
A primeira refeição que consolidamos por aqui foi o café da manhã, que geralmente começava com uma meia laranja lima (descascada e sem sementes) que a própria Inaê segurava sozinha pra chupar, antes de comer banana ou mamão com aveia, e depois um pedacinho de pão que ela também pegava com as mãozinhas. Aos poucos foi pegando sozinha de tudo: frutas (algumas são ótimas pra segur ar, como manga), pão, brócolis, cenoura, carne, até osso de galinha (só tome cuidado pra tirar aquele osso agulhinha).
Tem dois tipos de argumento geralmente usados contra esta autonomia relativa do bebê.
Um é o do medo do bebê engasgar. Ora, é claro que o bebê pode engasgar, a Inaê já engasgou com uma uva e eu tive que meter a mão lá na goela dela! É por isso que se trata de uma autonomia supervisionada. Você não vai deixar o bebezinho muito novinho totalmente sozinho enquanto experimenta algum alimento, vai? Então, se você está ali ao lado, tomando cuidado pra cortar pedaços num tamanho que não engasgue e vendo se mastiga e engole direitinho, não há por que privá-lo da experiência de um pouquinho de autonomia.
Outro é o da proibição do bebê se lambuzar. Realmente, se você der um alimento (principalmente um bem lambuzento, tipo uma manga ou banana ou uma coxa de galinha) pro bebê segurar e chupar, provavelmente depois vai ter que lavar as mãozinhas e talvez até trocar de roupa. Mas na boa, pra mim isso é nada diante da carinha iluminada destas criaturinhas felizes que só elas em seus primeiros momentos de conquista!
Ah, e aos poucos eles vão adquirindo mais destreza e novos interesses, por ex. a Inaê anda numa fase que adora "compartilhar" a comida comigo ou outras pessoas, cada vez que eu mordo ou mastigo algo que ela me deu ela se diverte horrores! Não é muito mais divertido a hora da comida assim?

8 – companhia!
Aqui em casa comer é uma experiência totalmente relacionada a estar junto e ter prazer. Bom, todo mundo sabe que eu e o Nes somos bons de garfo, pois bem a Inaê está saindo igualzinha, e isso pra mim é uma primeira lição, que os pais são modelos pros filhos (pro bem ou pro mal). A gente adora comer e comemos de tudo. Resultado: temos uma pequena DRAGA aqui em casa, que come de tudo e se interessa em se experimentar de tudo. Acredito vivamente que o exemplo dos pais faz a diferença (inclusive para as besteiras, então nada de refrigerante, açúcar etc., quanto menos contato com doces e junk food agora, melhor pro bebê nos seus hábitos futuros, quando a oferta será quase inevitável!)
Não lembro exatamente quando, mas muito rápido a gente parou de fazer comida “especial” de bebezinho, tipo cozida no vapor à parte e amassada. Em questão de semanas, ela passou a comer o mesmo que nós, apenas amassando ou desfiando quando fosse o caso – mesmo porque a gente faz comida nova todo dia em casa, em panela de ferro, pouco sal etc. Atualmente, ela almoça conosco quando acorda de sua soneca no meio do dia, por volta das 13h!

Bom, aí está como funcionou conosco, espero que ajude outras mães nesta fase como me ajudou na época ler diferentes relatos, porém sempre tirando minhas próprias conclusões e fazendo as adaptações. E o maior objetivo deste relato familiar e da partilha de informações de fontes bacanas foi reforçar que a continuação natural da amamentação pode muito bem conviver com a introdução de alimentos!
 

Introdução de Sólidos, por Dr. Carlos Gonzalez

O Dr. Carlos Gonzalez é um pediatra de nacionalidade espanhola, grande especialista e defensor da amamentação. É fundador e presidente da Asociación Catalana Pro Lactancia Materna e autor de livros muito lindos, como Bésame Mucho, "Mi Nino No Me Come" e "Un Regalo para Toda la Vida: guia de la lactancia materna". Ele costuma responder perguntas enviadas por mães aqui neste fórum aqui.

O trecho a seguir foi retirado do livro Mi Niño No Me Come, ou Meu Filho Não Quer Comer (a tradução é da Flávia Mandic, a partir da edição em inglês My Child Won't Eat)

Os conflitos entre a mãe e o filho durante a amamentação ou uso de mamadeiras podem ser terríveis, mas ainda bem que são pouco freqüentes. A introdução de alimentos sólidos é uma oportunidade nova de perigo e devemos trilhar este caminho com cuidado.
 
Para esclarecer, quando mencionamos “sólidos”, não nos referimos apenas aos alimentos oferecidos ao bebê com uma colher. Usaremos o termo para referir-se a qualquer comida além de leite humano ou leite modificado, mesmo água, chá ou comidas duras como biscoito.
Muitas mães encontram-se sobrecarregadas de informação a respeito de regras, grandes, pequenas e médias envolvendo alimentação de bebês. Elas recebem conselhos de pediatras e enfermeiros, algumas informações muito mais complexas e detalhadas que aquelas dadas pelos especialistas famosos, palpites de família e amigos, bem como as “conversas de comadre” que alertam sobre evitar comidas “reimosas” ou “incompatíveis”.

Incapaz de seguir todas as regras ao mesmo tempo, muitas vezes a mãe opta por rejeitar todas e fazer somente aquilo que ela quer. O risco é de que ela ignore as recomendações realmente importantes. Para evitar tal problema, vou diferenciar claramente entre as opções onde há um grau de consenso em relação à sua importância (baseadas numa combinação de normas internacionais) e aquelas sugestões que parecem úteis, embora outros profissionais possam ter opções diferentes.


Pontos Importantes
Tenha em mente os seguintes pontos, embora eles não devam ser tomados como dogma:
1. Nunca force uma criança a comer.
2. Amamente exclusivamente até 6 meses (sem papinhas, suco, água, chás, etc.).
3. Aos 6 meses, comece (sem forçar) a oferecer outros alimentos, sempre depois da mamada ao seio. Bebês não amamentados devem tomar 500ml de leite artificial por dia.
4. Introduza os alimentos um de cada vez, esperando uma semana entre comidas novas. Comece com quantidades pequenas.
5. Ofereça alimentos que contêm glúten (trigo, aveia, centeio) com precaução.
6. Quando cozinhar para o bebê, escorra bastante o alimento, evitando encher a barriga dele com água.
7. Espere até 12 meses de idade para introduzir alimentos altamente alergênicos (especialmente laticínios, clara de ovo, peixe, soja, amendoim e muitas outras comidas que já causam alergia em membros da família).
8. Não acrescente sal ou açúcar aos alimentos.
9. Continue amamentando por 2 anos ou mais.

Em algumas situações pode-se introduzir sólidos antes de 6 meses (mas nunca antes de 4): quando a mãe trabalha, por exemplo. Ou quando a criança claramente pede para ser alimentada agarrando o alimento e colocando-o na boca sozinha.
 
“Oferecer” significa que, se ele quiser comer, o bebê come, mas se não quiser, não come. Muitas crianças recusam tudo menos o seio até 8 ou 10 meses, muitas vezes mais.

Alimentos sólidos são oferecidos depois da amamentação, não antes, e certamente não em substituição à amamentação. Somente assim você tem certeza de que seu bebê tomará o leite de que precisa. Acredita-se que entre 6-12 meses, o bebê precise de cerca de 500 ml de leite por dia. Claro que isso é uma média, muitos tomam mais e outros ficam bem com menos. Uma criança que toma mamadeira pode facilmente ficar bem com 2 mamadeiras de 250 ml ao dia. Não é razoável, porém, esperar que um bebê amamentado tome 250 ml a cada 12 horas; os seios da mãe ficariam desconfortavelmente cheios. Faz mais sentido para bebês amamentados tomar 100 ml cinco vezes por dia, ou 70 ml sete vezes por dia. Certamente você não sabe (ou não sabia antes de iniciar os sólidos) quanto leite seu bebê mama; mas se ele é amamentado antes da oferta de sólidos, você fica tranqüila sabendo que ele mama o que precisa.

Que comidas devo oferecer primeiro?
Não importa. Não há base científica que suporte a recomendação de um alimento antes de outro. Se você oferecer frutas primeiro, seguidas por cereal, depois frango, você estará seguindo as orientações da ESPGAN (Sociedade Européia de Gastroenterologia e Nutrição Pediátricas). Mas se você der frango, depois legumes e cereais por último, também estará dentro das normas.
Digamos que você decida começar com banana amassada. Depois da amamentação, ofereça ao bebê uma ou duas colheres. No primeiro dia é sempre melhor oferecer só um pouquinho, ainda que ele aceite bem. Se ele recusar a primeira colherada, não insista, mas continue oferecendo a cada um ou dois dias. Se ele aceitar bem, você pode aumentar a quantidade a cada dia. Depois de uma semana, você pode tentar outro alimento, como batata doce ou abacate. Na semana seguinte, pode oferecer um pouquinho de arroz. Cozinhe arroz (melhor ainda, cozinhe até virar papa), sem adicionar sal. Você pode adicionar azeite (ficará mais saboroso e terá mais calorias).
Esta ordem é só um exemplo, você pode inverter, se quiser. Claro, se alguma das comidas causar diarréia ou outros sintomas, ou se o bebê rejeita veementemente, é melhor esperar algumas semanas. Se uma reação mais severa é observada, como uma vermelhidão na pele, consulte o pediatra.
Também não é necessário introduzir uma comida nova a cada semana. Variedade significa um pouco de cereais, um pouco de legumes, um pouco de frutas – mas não é vital que o bebê coma muito de cada grupo. Maçãs não possuem nada diferente das peras e a maioria dos adultos vive bem comendo apenas dois tipos de ceral: arroz e trigo, deixando o resto para o gado. Se seu filho já come frango, você não estará acrescentando nada ao oferecer novilha. Antes de 1 ano, a introdução de muitos alimentos diferentes somente significa comprar mais bilhetes para a loteria da alergia. 
A razão principal de oferecer outros alimentos ao bebê com 6 meses (e não depois) é que alguns bebês precisam de ferro extra. Portanto, seria lógico que comidas ricas em ferro fossem introduzidas primeiro. Por um lado, há carnes com alto teor de ferro orgânico altamente biodisponível. Por outro, há legumes, leguminosas e cereais que contêm ferro inorgânico, mais difícil de ser absorvido a menos que esteja combinado com vitamina C. É por isso que muitos adultos comem a salada primeiro (rica em vitamina C), depois os grãos e legumes, com a sobremesa por último. O que é comumente feito com bebês na Espanha não é uma idéia muito boa, oferecendo a eles somente grãos numa refeição, legumes na outra e fruta na próxima. Quando seu bebê ingere muitos alimentos, é uma boa idéia combiná-los , oferecendo-os numa mesma refeição (não batendo todos juntos no liqüidificador) ao invés de fazer menus monocromáticos (“hora do cereal”). 

E se ele não quer comer comida de bebê?
Não se preocupe, isso é totalmente normal. Não tente forçá-lo. Você talvez tenha sido aconselhada a oferecer sólidos antes do peito, assim ele estará com fome suficiente para comer. Isso não faz o menor sentido, uma vez que o leite materno nutre muito mais que qualquer outro alimento. É por esta razão que usamos o termo “alimentação complementar”. Sólidos não são nada mais que um complemento ao leite materno. Se seu bebê mama e depois rejeita frutas, nada acontece; mas se ele aceita fruta e depois não mama, ele sai perdendo. Mais fruta e menos leite é uma receita para perda de peso.

Desmame: fatos e mitos, por Dra. Elsa Giugliani

A Dra.  Elsa Regina Justo Giugliani é pediatra, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e especialista em Aleitamento Materno pelo IBLCE (International Board of Lactation Consultant Examiners)

O texto é do Boletim Cientifico da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, maio de 2005 e também pode ser encontrado aqui.

O homem é o único mamífero em que o desmame (aqui definido como a cessação do aleitamento materno) não é primariamente determinado por fatores genéticos e instinto, sendo fortemente influenciado por fatores sócioculturais.
Hoje, ao contrário do que ocorreu por pelo menos dois milhões de anos, ao longo da evolução da espécie humana, a mulher opta (ou não) pela amamentação e, influenciada por múltiplos fatores, decide por quanto tempo vai (ou pode) amamentar. Muitas vezes, as preferências culturais (não amamentação, introdução precoce de outros alimentos na dieta da criança, amamentação de curta duração) entram em conflito com a expectativa da espécie. Algumas conseqüências dessa divergência já puderam ser observadas, como desnutrição e alta mortalidade infantis, sobretudo em áreas menos desenvolvidas.
Porém, as conseqüências a longo prazo ainda não são totalmente conhecidas, já que transformações genéticas não ocorrem com a rapidez com que podem ocorrer mudanças de hábitos. Começam a ser mostradas evidências de que o não amamentar segundo as expectativas da espécie pode ter repercussões negativas ao longo da vida dos indivíduos. Assim, a não-amamentação ou amamentação sub-ótima podem favorecer o aparecimento de doenças alérgicas, diversas doenças do sistema imunológico, alguns tipos de cânceres, obesidade, diabete e doenças cardiovasculares, além de interferir negativamente no desenvolvimento oro-facial. Provavelmente, com o aparecimento de novas pesquisas nessa área, outros males serão relacionados com os hábitos "modernos" de alimentação infantil, mas alguns aspectos dificilmente podem ser quantificados, especialmente os relacionados com a psique humana.

Atualmente, em especial nas sociedades ocidentais, a amamentação é vista primordialmente como uma forma de alimentar a criança, sob o controle total dos adultos. Assim, perdeu-se a percepção da amamentação como um processo mais amplo, complexo, envolvendo intimamente duas pessoas e com repercussão na saúde física e no desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, além de repercussões para a saúde física e psíquica da mãe. Hoje, em muitas culturas "modernas", a amamentação prolongada (cujo conceito varia de acordo com a "convenção" da época e do local)freqüentemente é vista como um distúrbio inter-relacional entre mãe e bebê.

Quadro 1 - Sinais sugestivos de que a criança está madura para o desmame mãe e bebê.
Idade maior que um ano.
Menos interesse nas mamadas.
Aceita variedade de outros alimentos.
É segura na sua relação com a mãe.
Aceita outras formas de consolo.
Aceita não ser amamentada em certas ocasiões e locais.
Às vezes dorme sem mamar no peito.
Mostra pouca ansiedade quando encorajada a não amamentar.
Às vezes prefere brincar ou fazer outra atividade com a mãe ao invés de mamar.

Perdeu-se a noção de que o desmame não é um evento e sim um processo, que faz parte da evolução da mulher como mãe e do desenvolvimento da criança, assim como sentar, andar, correr, falar. Nesta lógica, assim como nenhuma criança começa a andar antes de estar pronta, nenhuma criança deveria ser desmamada antes de atingir a maturidade para tal.

Em harmonia com esta linha de pensamento, Dr. William Sears, um antigo pediatra, recomendava: "Não limite a duração da amamentação a um período pré-determinado. Siga os sinais do bebê. A vida é uma série de desmames, do útero, do seio, de casa para a escola, da escola para o trabalho. Quando uma criança é forçada a entrar em um estágio antes de estar pronta, corre o risco de afetar o seu desenvolvimento emocional". Essas palavras sábias podem ter pouco respaldo em sociedades individualistas, que tendem a acelerar o processo de independização do ser humano, substituindo o seio por métodos de auto-consolo como chupetas, paninhos, mantinhas, ursinhos, etc.

Segundo diversas teorias, o período natural de amamentação para a espécie humana seria de 2,5 a sete anos. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde recomenda aleitamento materno por dois anos ou mais, sendo exclusivo nos primeiros seis meses. Apesar dessa recomendação, poucas mulheres no Brasil amamentam por mais de dois anos.

As razões para a não amamentação prolongada variam desde dificuldade em conciliar a amamentação com outras atividades, até crença de que aleitamento materno além do primeiro ano é danoso para a criança sob o ponto-de-vista psicológico. Uma parcela de mães, apesar de demonstrar desejo em continuar a amamentação, sente-se pressionada a desmamar por profissionais de saúde, seus maridos, parentes, vizinhos e amigos.

Para a manutenção do paradigma que sustenta a afirmação de que amamentação prolongada não é natural, foi necessário criar vários mitos, tais como o de que uma criança jamais desmama por si própria, que a amamentação prolongada é um sinal de problema sexual ou necessidade materna e não da criança e que a criança que mama fica muito dependente.

Algumas mães, de fato, desmamam para promover a independência da criança. No entanto, é importante lembrar que o desmame provavelmente não vai mudar a personalidade da criança. Além disso, o desmame forçado pode gerar insegurança na criança, o que dificulta o processo de independização.
O desmame pode ser agrupado em quatro categorias básicas: abrupto, planejado ou gradual, parcial e natural. Sob a ótica de que o desmame é um processo de desenvolvimento da criança, parece razoável afirmar que o ideal seria que ele ocorresse naturalmente, na medida em que a criança vai adquirindo competências para tal. No desmame natural a criança se auto-desmama, o que pode ocorrer em diferentes idades, em média entre dois e quatro anos e raramente antes de um ano.
Costuma ser gradual, mas às vezes pode ser súbito, como por exemplo em uma nova gravidez da mãe (a criança pode estranhar o gosto do leite, que se altera, e o volume, que diminui). A mãe também participa ativamente no processo, sugerindo passos quando a criança estiver pronta para aceitá-los e impondo limites adequados à idade.

O Quadro 1 apresenta os sinais indicativos de que criança pode estar pronta para iniciar o desmame. É importante que a mãe não confunda o auto-desmame natural com a chamada "greve de amamentação" do bebê. Esta ocorre principalmente em crianças menores de um ano, é de início súbito e inesperado, a criança parece insatisfeita e em geral é possível identificar uma causa: doença, dentição, diminuição do volume ou sabor do leite, estresse e excesso de mamadeira ou chupeta. Essa condição usualmente não dura mais que 2-4 dias. Algumas vantagens do desmame natural encontram-se no Quadro 2.

Quadro 2 - Vantagens do desmame natural
Transição tranqüila, menos estressante para a mãe e a criança.
Preenche as necessidades da criança até elas estarem maduras para o desmame.
Fortalece a relação mãe-filho.
Ajuda a mãe a ser menos ansiosa com relação aos estágios de desenvolvimento de seu filho.

O desmame abrupto é desencorajado, pois se a criança não está pronta, ela
pode se sentir rejeitada pela mãe, gerando insegurança e muitas vezes rebeldia. Na mãe, o desmame abrupto pode precipitar ingurgitamento mamário, bloqueio de ducto lactífero e mastite, além de tristeza ou depressão, por luto pela perda da amamentação ou por mudanças hormonais.
Muitas vezes a mulher se depara com a situação de querer ou ter que desmamar
antes de a criança estar pronta. Nesses casos, o profissional de saúde, em especial o pediatra, deve respeitar o desejo da mãe e ajudá-la nesse processo. O Quadro 3 apresenta os fatores que facilitam o encorajamento do bebê para o desmame.

A técnica utilizada para fazer a criança desmamar varia de acordo com a idade da mesma. Se a criança for maior, o desmame pode ser planejado com ela. Pode-se propor uma data, oferecer uma recompensa e até mesmo uma festa. A mãe pode começar não oferecendo o seio, mas também não recusando. Pode também encurtar as mamadas e adiá-las. Mamadas podem ser suprimidas distraindo a criança com brincadeiras, chamando amiguinhos, entretendo a criança com algo que lhe prenda a atenção. A participação do pai no processo, sempre que possível, é importante.

A mãe pode também evitar certas atitudes que estimulam a criança a mamar, por exemplo, não sentar na poltrona em que costuma amamentar. Algumas vezes, o desmame forçado gera tanta ansiedade na mãe e no bebê, que é preferível adiar um pouco mais o processo, se possível. A mãe pode, também, optar por restringir as mamadas a certos horários e locais.

Quadro 3 - Encorajando o bebê a desmamar: facilitadores
Mãe segura de que quer (ou deve) desmamar.
Entendimento da mãe de que o processo pode ser lento e demandar energia, tanto maior quanto menos pronta estiver a criança.
Flexibilidade, pois o curso é imprevisível.
Paciência (dar tempo à criança) e compreensão.
Suporte e atenção adicionais à criança – mãe não deve se afastar neste período.
Ausência de outras mudanças ocorrendo, como, por exemplo, controle dos esfíncteres.
Sempre que possível, desmame gradual, retirando uma mamada do dia a cada 1-2 semanas.

As mulheres devem estar preparadas para as mudanças físicas e emocionais que o desmame pode desencadear, tais como: mudança de tamanho das mamas, mudança de peso e sentimentos diversos, tais como alívio, paz, tristeza, depressão, culpa e arrependimento.

Já se avançou muito na valorização do aleitamento materno nos últimos tempos. A recomendação da duração da amamentação passou de 10 meses na década de 30 para dois anos, ou mais, nos dias de hoje. Atualmente, fala-se em desmame natural como a forma ideal de desmame, sem especificar uma idade mínima ou máxima para que esse processo ocorra.

Apesar desse avanço, ainda estamos longe de encararmos o desmame como um marco do desenvolvimento da criança. Para chegarmos a este estágio, faz-se necessário entender e enfrentar as circunstâncias que, segundo Souza e Almeida, "ultrapassam a natureza e desafiam a cultura e a sociedade".

sábado, 16 de abril de 2011

14 meses de vida sem fralda descartável

Pois é, gente, chegamos até aqui, mais de 1 ano usando só fralda de pano, nem uma única fralda descartável, nenhum mistério, afinal não foram assim que fizeram nossos pais, avós, bisavós etc?

Só que agora tá ainda mais fácil, aliás quando a Inaê nasceu nossas fraldas (da FraldaBonita) tinham fecho de velcro, que com alguns meses precisamos trocar - a dinda Mari, ás da máquina de costura, que trocou. Mas as novas fraldas agora vêm com botão de pressão. Com isso, dá pra lavar mais tranquilamente na máquina de lavar, pois não estraga como o velcro (e agora que a gente tem uma máquina de lavar nova, então...). Só algumas precisam ficar no molho no balde, o resto pode ir direto pra máquina!


Hoje, mais de 1 ano depois e vários modelos de FraldaBonita, posso dizer que os que mais gosto são os tipo Tutti ou Windy, que tem vários botões de pressão na vertical, permitindo ajustar ao tamanho do bebê à medida que ele vai crescendo. Além disso, têm uma dobradinha na coxa que fica mais difícil vazar e o principal motivo: secam super-rápido! (mas tem que pedir com a cobertura sempre-seca, daquele tecido tipo soft).


Outra novidade legal é que desde fevereiro a Inaê começou na escolinha meio período e as educadoras se adaptaram totalmente, não teve problema. Eu já mando as mudinhas de fralda na bolsa "montadas" com o absorvente, e também um saco plástico para elas me enviarem de volta a roupinha suja. Tem dado 100% certo!

Fora isso, procuro deixar a Inaê sem nada sempre que posso. Ah, mas não corre o risco dela fazer xixi ou cocô no chão? Claro que sim! Nada que um papel higiênico e um paninho molhado não resolvam, e aí faz a higiene dela, normalmente (continuo usando apenas algodão, água e óleo de coco, nada de pomadas!)
Acho que é uma maravilhosa maneira de ela ir adquirindo percepção sobre o próprio corpo!
Aliás, cada vez mais compreendo que o lance da fralda descartável, ou de colocar fralda em geral, tem mais a ver com o conforto dos pais. Mas não necessariamente da criança, né?
Bom, pra quem se interessar, vale a pena a experiência: fralda de pano no dia a dia, e um tempo sem fralda sempre que puder!

A Família Nesguinha aprova e recomenda!

PS: vejam aqui nosso primeiro relato, quando a Inaê tinha uns 7 meses e estava começando a comer - hoje podemos dizer que depois que o bebê começa a comer comida, o cocô fica mais durinho e fica ainda MAIS fácil limpar a fraldinha de pano!
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