Bichos que dão em gente pequena (1): oxiúros

Gosto de compartilhar aqui relatos de experiências que tivemos pra ajudar quem passa pelo mesmo. Em geral só consigo registrar depois que tudo passa e se resolve. O que significa que, mesmo tendo "final feliz", também vivenciamos momentos similares ao de tanta gente, com muita angústia, dúvida, preocupação, enquanto o processo ainda está em curso.

Meu relato positivo vem no intuito de animar quem ainda tá no meio do furacão, sobretudo porque eu mesma li muitos relatos desanimadores sobre grande dificuldade pra se combater oxiurose. Mas o que queria dizer aqui é: é possível vencer o oxiúros, sim! Dá muito trabalho, mas a gente consegue, e de modo definitivo. Quer saber como foi por aqui?

Vamulá.
Como já ensina a mestra Sonia Hirsch, gente é cheia de muito bicho, bichinho e bichinhozinho morando dentro - alguns que ajudam (como os probióticos do nosso querido keffir), outros que fazem mal, desde um malzinho passageiro até um mal bem grave.

Por aqui tivemos uma crise com um desses bichos, um verme extremamente comum em crianças entre 5 e 10 anos, que é o oxiúros.

Pra quem não conhece, é uma lombriguinha minúscula, que quase nenhum exame comum de vermes pega, mas que dá pra ver a olho nu na região anal e perianal, sobretudo no meio da noite ou logo de manhã cedo ao acordar.
E gente, e não dá pra negar: é muito desesperador encontrar essas "minhoquinhas" brancas vivas se remexendo na entrada do bumbum de seu filho pequeno... realmente uma cena bem impactante!


SINTOMAS E DIAGNÓSTICO

Como em geral é difícil de detectar em exame, o principal sintoma costuma ser a intensa coceira anal da criança. Nas meninas, a coceira pode dar na vagina, e foi por aqui o que nos alertou pro problema.

Achei que fosse outra questão típica feminina, tipo cândida, mas a médica da emergência já diagnosticou acertadamente. E aí lembrei que o irmão estava demonstrando a mesma coceira no bumbum. Muito comum, aliás, entre irmãos, um pegar do outro.

Na Inaê não deu pra ver, mas no Rudá naquela mesma noite fiz o exame e, pimba, aquela cena horrível que descrevi... tava estabelecido o diagnóstico!

Pra ter certeza, você precisa examinar a criança quando ela já estiver dormindo há cerca de umas 2 horas pelo menos, pois é de noite que o verme desce do intestino pra pôr ovos na região anal, onde a temperatura é mais baixa que dentro do corpo.
Coloque luvas descartáveis e use uma lanterna.
Vc pode até usar o método da "fita adesiva" pra retirar, mas se confirmou e viu o bicho vivo, eu acho melhor mesmo lavar e/ou fazer o banho de assento.

E agora, o que fazer?

Eu confesso: chorei e me desesperei muito esses dias, principalmente por ter uma bebezinha que não tinha nem 4 meses ainda dentro de casa. E também pelo extremo cansaço, porque se prepare: cuidar de infestação de oxiuros exige umas duas semanas de muuuuuuito trabalho de limpeza pesada na casa toda, nas roupas e nos pacientes.

Mas uma das coisas que foi me ajudando a desfazer o medo e ter confiança na cura foi conhecer bem o ciclo de vida do meu minúsculo inimigo. Com isso, estabelecemos rotinas rígidas, sobretudo nas primeiras duas semanas, e depois práticas de manutenção, que conseguiram dar conta de vez.

O que você precisa saber: o ciclo de vida do oxiúros

Quando entendi que o ciclo de vida desse bicho era muito simples, comecei a perder o medo, inclusive que a minha bebê pegasse (e efetivamente ela não pegou nada).

Fonte: Wikipedia

O ciclo é assim: os ovos do bicho são ingeridos pela boca, em cerca de 2 semanas eclodem no intestino e viram larvas que crescem e acasalam. Aí a fêmea vem colocar os ovos na entrada do ânus, onde a temperatura é mais baixa, sempre no período noturno (por isso que é nessa hora que a gente faz o exame pra detectar). Depois que coloca os ovos, ela morre. E pronto, se não tivesse reinfestação, a verminose acabava aí mesmo e tudo certo.

Mas ocorre que a reinfestação tem altíssima probabilidade, principalmente nas crianças pequenas, porque se coçam dormindo (e lembrar que a coceira noturna é o maior sintoma do bicho), e aí põe a mão na boquinha, e pronto. Volta tudo de novo.

Então essa é a primeira coisa importante: a forma de transmitir é a mão na boca (porque a volta do bicho subindo de volta por onde saiu, após pôr os ovos, embora possa acontecer, é rara). Não existe o que eu tive que ouvir por aí, até de conhecidos, que a criança se infectou porque sentou em banheiro sujo ou em parquinho de areia etc. Nada disso! A criança pega o verme porque colocou a mão com ovos na boca - e essa é a chave principal pra vc conseguir se livrar!

Porém, não vá pensando que é assim tão fácil. Os ovinhos são transparentes e levíssimos. Podem com facilidade ficar espalhados pela roupa de cama, pijamas, roupa íntima, e até por objetos manuseados com frequência. Podem até ficar suspensos na poeira no ar (embora só por algumas horas). Em dias muito quentes sobrevivem menos, mas caso contrário, podem ter duração de até 2 ou 3 semanas nas superfícies em que estão - assustador, né?

O que você precisa fazer: medicação correta + mudança de hábitos para evitar a reinfestação

O medicamente específico pra este verme é o parmoato de pirvínio (nome comercial: Pyrpam).

Outros tipos podem ser receitados (como aconteceu inicialmente conosco no atendimento de emergência) e até podem pegar um ou outro oxiúro, mas não são específicos pra ele e podem não erradicar todos. Então tem que tomar o Pyrpam mesmo, de acordo com o peso corporal indicado, até o máximo de 6 comprimidos.

Se a pessoa tomar a medicação correta, repetindo a dose 2 semanas depois pra garantir que pegou alguns que possam ter eclodido no intestino quando ainda não estava se tratando, a taxa de cura é super alta... eu diria total, se você evitar a reinfestação.

Por aqui, só as duas crianças maiores e eu demonstramos sintomas confirmados no exame  noturno (sim, adulto também pode pegar, em geral a mãe da criança em tratamento...). Pra maior tranquilidade de todos, dei uma dose adicional pra garantir mesmo, mas já não tinham sintoma desde a 2a dose (e eu já parei de ter sintoma logo na 1a dose).

O pai também tomou o remédio mas só preventivamente, pois nunca apresentou sintoma. E a bebezinha também não teve nada, pois bebê muito novinho, com menos de 2 anos, que ainda não manuseia objetos e tal, dificilmente pega, segundo o pediatra.

OBS: além do PyrPam também utilizamos de modo complementar uma pomada anti-parasitária de tiabendazol (tem várias, uma que usamos aqui é a Derm), aplicada na região peri-anal após higienização, de preferência na hora de dormir. Mas este medicamento é secundário, os comprimidos de parmoato é que irão de fato eliminar o verme.

Então, mas o remédio só mata os bichos adultos. Mas e os ovos que já estavam postos ou que estão por aí infestando o ambiente? É aí que entra uma mudança de hábitos, que tem que ser muito radical nas 1as duas semanas, e depois da cura pode ficar apenas nos procedimentos mais básicos. Só assim você vai conseguir evitar a repetição sem parar dos ciclos de oxiúros.

Não tem segredo sobre as principais medidas. São as mesmas indicadas por todos os médicos, bulas de remédios, etc.

Elas têm a ver com cortar radicalmente a etapa de "mão na boca" que perpetua o ciclo devolvendo os ovos pra dentro da pessoa. E também tem a ver com o calor, porque esta é a principal maneira de matar os ovos de oxiúros.

Você vai ter que fazer todo mundo da família, em especial as crianças infectadas, adotarem as seguintes práticas:

- lavar as mãos com muita frequência e muito bem (não adianta só molhar e deu; tem que ser aquela boa lavada, entre os dedos, no dorso da mão etc. Ficar pelo menos 1 minuto lavando).

- manter as unhas bem curtas e limpas (usar uma escovinha pra completar a lavagem de mão). Unhas grandes e mal-lavadas podem ser verdadeiros depósitos de ovos.

- lavar obrigatoriamente as mãos antes de comer e de manusear alimentos - básicoooooo! Porém nem sempre criança pequena faz, ou então lava, mas levanta vai ali, pega um brinquedo, volta, põe a mão em outro lugar, volta. Hora de comer tem que ser hora de comer, com concentração. Se foi manusear alguma outra coisa a não ser a comida e voltou pra comer, põe pra lavar a mão DE NOVO.

- higienizar bem alimentos que são comidos crus, como frutas e verduras, de preferência deixar numa solução de água com vinagre alguns minutos

- evitar a todo o custo o hábito da mão na boca! Minha filha mais velha tinha muito este hábito (resquício de chupadora de dedo), e o menor também mais pela idade, e até eu era uma boa roedora de unha (provável meio pelo qual me contaminei). Mas o susto da oxiurose serviu pra dar uma boa mudada nisso, e de tanto se policiar a gente acaba fica muito consciente antes de levar a mão na boca no automático.

- durante as duas semanas de tratamento, ser muito rigoroso na troca diária e esterilização da roupa de cama, pijamas e roupas íntimas. Eu fiz isso durante quatro semanas, pra garantir bem, e já adianto que é quase enlouquecedor (aqui, por exemplo, eram 4 trocas diárias de lençois, mais as várias toalhas usadas por dia).

Eu não fervia, até porque não tenho lavadora com água quente.

O próprio pediatra orientou que passar a ferro durante este período era suficiente. No máximo, fervia a roupa íntima. A explicação desses cuidados é simples: como já disse antes, o CALOR é a forma mais efetiva de eliminar os ovos que causam a reinfecção.

- durante o período crítico de tratamento, fazia as crianças trocarem de calcinha/cueca várias vezes, além de tomarem vários banhos quentes, em especial logo de manhã ao acordarem, e de noite com um banho de assento também quente, de preferência com um pouco de sal e vinagre. Com isso, mais chances de ir eliminando ovos do ambiente.

- os ovos são muito leves e permanecem no ambiente com a poeira, por isso cuidado especial para aspirar bem a casa (bem mais garantido aspirar que varrer), em especial os quartos de dormir, logo de manhã (após a postura noturna). Os banheiros também devem ter limpeza impecável e constante.

O pediatra também recomendou que na troca diária da roupa de cama não chacoalhasse os lençois, de modo que os ovos não ficassem suspensos no ambiente (o que pode ocorrer por algumas horas e alguém acidentalmente aspirar). 

Também busquei esterilizar todo o ambiente das crianças, como as prateleiras com objetos e brinquedos mais manuseados, inclusive guardei vários objetos por algum tempo até que a crise passasse.

Quanto mais quente o clima, mais fácil será se livrar, mas lembre-se que os ovos podem durar até umas 3 semanas no ambiente, então durante o tratamento será preciso investir bem nessa esterilização do ambiente.

 - além de tudo isso, dá pra complementar alterando a alimentação, evitando ao máximo os doces que são fonte de energia pros vermes (aqui cortamos radicalmente durante o tratamento), e por outro lado consumir com frequência alimentos que são vermífugos naturais, como as sementes de abóbora e a água de alho.

De modo geral, o período crítico dura duas a três semanas, pois após a primeira dose, é preciso esperar 15 dias porque ainda pode ter havido reinfecção. No caso dos meus filhos, a crise só foi controlada de fato após a segunda dose. E eu ainda dei uma terceira dose para garantir.

(Já no meu caso, após a primeira dose já estava curada, mas ainda tomei a segunda conforme recomenda a bula).

São duas semanas muito tensas e esgotantes, e eu estive constantemente cansada de tanto limpar e aspirar e lavar e passar tudo, então tudo isso junto com  a preocupação com a recém-nascida me deixou à beira de um ataque de nervos, com as pontas dos dedos feridas por manusear muita água sanitária e alcool!

Porém, a cura definitiva veio no período esperado, o que me deixou extremamente aliviada, especialmente porque havia lido relatos muito pertubadores na internet de gente com crise recorrente.

É principalmente para contrapor com um relato de "final feliz" que faço este depoimento, pois é uma verminose que pode sim ser controlada e definitivamente erradicada, se for feito o controle intensivo das condições de infecção e se for tomado o medicamento correto nas doses indicadas.

E lembre-se: este não é um blog de auto-ajuda, nem eu sou uma profissional de saúde. Apenas quis aqui dar meu depoimento positivo, principalmente como mãe solidária a outras mães enfrentando o mesmo. Por isso, consulte sempre seu médico de referência ok?

Pra todo mundo: força e confiança. Vai passar!!!