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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Processos naturais podem ter uma ajudinha? (1)


Parte 1: um relato familiar de desfralde

Um processo natural é aquele em que o ritmo da natureza é respeitado sem sofrer nenhuma interferência externa, certo? Bom, acredito que depende.

Claro que cada criança é única, e ademais cada uma estabelecerá de modo único e diferenciado seu vínculo com a mãe e outros cuidadores e com o mundo em volta. Pra algumas, o processo natural de fato será totalmente espontâneo, surpreendendo os próprios pais, do tipo em que a criança do nada um dia vira e decide que não vai usar mais fralda e em pouquíssimos dias passa a usar só penico!

Mas pra muitas outras, um processo natural pode ter uma “mãozinha” pra guiá-lo, e ainda assim ser respeitoso, gradual, tranquilo. Ou mais: em alguns casos, o processo pode continuar a seguir seu curso natural, sem interrupções abruptas ou radicais, justamente por ter tido uma ou outra ajudinha.

As "idades de referência" também costumam ser complicadas, e talvez fosse mais prudente seguir certos sinais de maturidade pra próxima fase em cada criança, em vez de manter o olho fixo só no calendário.
Assim, por ex., em vez de introduzir alimentos complementares ao leite materno aos 6 meses exatos, parece mais válido observar se o bebê já senta sozinho e se já está demonstrando interesse por alimentos, o que vai variar em cada um, acontecendo pra uns antes dos 6 meses, mas pra muitos outros apenas bem depois disso!

Mas a linha é tênue, e o que digo aqui pode ser usado pra justificar processos que não foram respeitosos em sua essência, por ex. colocar direto um bebê na posição em pé num andador e dizer depois que começou “naturalmente” a andar sem ter engatinhado, ou regular horários de mamadas e substitui-las por mamadeiras e dizer que o bebê foi largando o peito “naturalmente” muito cedo (i.e. antes de 1 ano de idade).

Se não existem idades fixas de referência, porém, é certo que existem fases ou etapas de natureza fisiológica, psíquica e emocional que os filhotes humanos irão passar mais cedo ou mais tarde. Por isso todo cuidado é pouco, pra não interromper precocemente processos quando a fase de maior oralidade ainda não está fechada, ou retardando ad infinitum processos que impedem de adentrar na fase de maior autonomia.
E ao menos uma coisa é certa: as próximas fases sempre vêm!

Por aqui estamos vivenciando dois movimentos em direção a novas fases, tentando respeitar ao máximo o ritmo que parte da própria Inaê, porém oferecendo ajudinhas possíveis onde achamos que convêm, pros processos seguirem naturalmente deliciosos pra toda a família.
Um deles, o desfralde, está oficialmente concluído.
O outro, o desmame, está em curso, de forma gradual.
Aqui falarei do primeiro, deixando o segundo pro próximo post, pro texto não ficar grande demais.

Preciso fazer xi-xi-iiiii!”

Podemos considerar que o “estalo” do desfralde total aconteceu pra Inaê entre os 28 e 29 meses.
Mas o processo já vem de muitos meses, antes mesmo de completar 2 anos.
Nesse caso, a ajudinha externa começou com a presença de um penico em casa, e muita conversa e estorinha sobre tirar fralda, como por ex. lendo e relendo o livrinho da Lulu e o do ratinho. Paralelamente, fomos “testando” deixá-la muitas vezes sem fralda ou de calcinha quando estava em casa.
Porém muito tempo se passou sem que houvesse a esperada cena mágica de se dirigir sozinha ao penico.

Confesso que houve um momento em que tendi a desrespeitar o ritmo natural dela, principalmente na época em que uma amiguinha mais nova, a Nina, largou natural e espontaneamente a fralda em um período recorde de dias, com apenas 1 ano e 7 meses!
Felizmente, consegui me lembrar a tempo que cada um é único e que não adiantava levar correndo ao penico, se ela gritava “Penico, não! Penico, não!”. Pelo contrário, como sabiamente dizem os mais experientes, apressar certos processos pode até ter o efeito contrário, e acabar retardando tudo.
O jeito então foi ter paciência, e seguir na nossa rotina de lavar fraldas por mais um tempo...


O próximo passo de “ajudinha externa” foi passar a tirar a fralda nos períodos acordada.
Não acho que a questão do clima seja determinante, mas a viagem pode ter facilitado, pois aqui na Bahia é mais quente, e assim tem menos roupa pra tirar na hora em que começa a avisar.
Quanto à fralda de pano, também não há como saber, mas meu palpite é o de que pode ter ajudado, pois a Inaê passou a expressar incômdo quando molhada e pedir “tloca minha flalda???”

Em Arraial, ainda colocava a fralda nos períodos de soneca diurna e sono noturno. Aqui em Olivença, logo a soneca diurna também passou a ser sem fralda, e pouco depois já arriscava no sono da noite. Desde então, nunca mais precisei colocar, nem ela nunca mais aceitou... E adeus, fraldas!

Mesmo sendo um processo que vem da criança, a gente também tem que estar atenta pra sugerir, mesmo quando ela ainda não pediu.
Sei que parece um pouco cansativo ficar perguntando várias vezes “quer fazer xixi agora?”, “vamos fazer um xixizinho antes de dormir?”, mas não se trata de forçar muito a barra não, é só quando se observa que tá se apertando ou já faz tempo que fez.
Porque criança não gosta por ex. de parar a brincadeira quando tá muito boa, e aí acidentes acontecem, mas são super-normais e fazem parte.

Mas em geral, o que rolou por aqui é que, aos poucos, ela mesma é que foi dizendo quando precisava, até no meio da noite.

E foi assim que, um belo dia, me dei conta de que já fazia um tempo que ela estava falando essas 3 palavrinhas mágicas:
- Preciso fazer xixi!!!

Puxa, quanto significado em 3 simples palavrinhas...
A consciência corporal pra poder avisar com antecedência...
A capacidade de segurar o xixi até conseguir tirar a roupinha e chegar no penico (ou, com nossa ajuda, no vaso)...
A independência de decidir e fazer coisas por conta própria...

Seja bem-vindo, controle dos esfincteres!

Um comentário:

  1. Gabi, sua filhota tá muito grandona!
    Joana continua picototinha, mas muito esperta. O desfralde dela foi espontâneo e começou com 1 ano e meio. Hoje, nossas filhas quase gêmeas, demonstram que sabem o que querem, com 2 anos e meio.
    Joana passa o dia de calcinha e ainda faz xixi à noite, mas também com esse frio, né?
    Beijo grande e adorei seu blog!

    Sylvana

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