Ainda no fim de 2012,
tentei começar a escrever sobre nosso processo de desmame gradual,
então em curso, mas não consegui. Só hoje entendo que foi porque
não dava pra falar de algo que ainda não estava então
totalmente concluído e que portanto mobilizava sentimentos
contraditórios dentro de mim: de um lado, a vontade de não apressar
processos que não estivessem prontos; de outro, a preocupação de
não criar obstáculos e empecilhos pro avanço natural rumo às novas fases que sempre vêm...
Como sabem os leitores
deste blog, quando Inaê era ainda um bebezinho, meu medo era
provocar seu desmame abrupto ou precoce (ou pior: ambas as coisas
juntas). Mas depois, já entrada na sua fase de conquista da
autonomia, passei de outro lado a me preocupar em não deixar a amamentação se estender a perder de vista, atrapalhando o fechamento de um ciclo e o início de outros.
Pra nós, o jeito de
equilibrar foi tentar ao máximo respeitar que a amamentação fosse
finalizando da forma mais lenta e gradual possível.
Num país em que o
período médio de aleitamento materno exclusivo é de espantosos 54
dias, conforme dados do próprio Ministério da Saúde (e se você se assustou, saiba que dez anos antes, esta média
não passava de meros 23 dias!), e mesmo o período de aleitamento total fica
aquém do recomendado pela OMS, é preciso tomar muito, mas muito
cuidado com a diversidade de argumentos utilizados pra justificar
como, quando e porque acontece um desmame total.
Falar de tempo também
é complexo. Pra nós, o desmame total aconteceu em algum momento de
março de 2013, quando ela já tinha completado 3 anos. Não posso
dizer exatamente quando foi a última vez de todas, pois ela já
vinha numa frequência escassa, inclusive alternando dias.
Continuo a acreditar no
desmame natural, e que é possível respeitar ao máximo o tempo de
cada criança, mas entendo também que nós mães somos o lado adulto
desta relação bilateral e precisamos muitas vezes conduzir em uma ou outra situação justamente para que
o processo continue a acontecer de modo natural e saudável. Então aí entram as "ajudinhas" de que falo, e que têm a ver com alguns
dos pontos pra gente ficar ligada (não paranóica, apenas ligada) e tentar buscar o equilíbrio pro processo continuar saudavelmente.
Algumas reflexões sobre pontos que frequentemente nos geram dúvidas e inseguranças internas quando o processo ainda está em curso, pelo que observei da nossa experiência e do que acompanho por aí:
Algumas reflexões sobre pontos que frequentemente nos geram dúvidas e inseguranças internas quando o processo ainda está em curso, pelo que observei da nossa experiência e do que acompanho por aí:
Frequência e
duração das mamadas
Quando minha filha já
estava perto de 3 anos e eu contava que ela mamava, a reação
inevitável: “Mas ela AINDA mama?”. Só que não é bem assim.
Uma criança de 3 anos já não mama como uma de 2 anos, que por sua
vez não mama como uma de 1 ano, que tampouco mamará como um
recém-nascido.
No caso dos últimos
meses de amamentação da Inaê, além da frequência ter se reduzido
a um único horário (um pouco antes de dormir), a duração era
ínfima: nos últimos tempos, nunca chegava a 5 minutos, em geral no
máximo uns 3, e pra falar a verdade, na maioria das vezes eram
segundos!!!
Todos sabem aqui que
defendo a livre demanda ampla e irrestrita pra recém-nascidos. É o
texto mais acessado deste blog, e continuo pensando desta forma.
Mas poderia mais ou
menos resumir assim (tomando MUITO cuidado com a interpretação
rígida desta esquematização, pois de novo, pra alguns acontecerá
antes, pra outros depois, e as transições de uma fase pra outra
serão fluidas e cheias de idas e vindas):
- recém-nascidos =
mamar quando e por quanto tempo demandar, inclusive períodos de
sucção não-nutritiva. Mesmo sendo livre demanda, porém, com o tempo você já pode aplicar algumas daquelas dicas que depois farão diferença, como por ex., observar o bebê pra ir entendendo o momento de retirar a boquinha dele do seu mamilo, usando bem delicadamente o seu dedo - e assim vai ajudando-o a aprender a soltar sozinho o mamilo quando saciado.
- bebezinhos (até cerca de 1 ano) = continuar mamando livre, mas já dá pra ficar
atenta ao fortalecimento de outras formas de vínculo com a mãe. Ainda nessa
época se inicia a maravilhosa fase de experimentação dos
alimentos, em que o leite materno continua a ser alimento principal,
mas se estimularmos e nos permitirmos uma entrada tranquila nesta fase, o bebê vai se abrindo saudavelmente a novos sabores e
experiências. Além disso, as mamadas já começam a ser reduzidas pelo próprio ritmo da vida de cada
família, por uma série de
razões, a começar pela volta ao trabalho da mãe, muito comum nesta fase.
- bebezões (mais de 1
ano, até cerca de 2) = aqui é preciso estar realmente sintonizada
com o bebê, pra já começar a entender quando na verdade a demanda
é por colo, atenção, carinho, xodó, e neste caso não precisa ser
necessariamente na forma de mamar. Nesta fase, acho razoável começar
a estabelecer algumas condições, tipo não mamar mais em
determinada situação ou horário. Passar por este processo com uma
criança que já começa a falar é extremamente diferente (e na minha opinião, mais fácil e gratificante) do que o
desmame de um bebezinho (= menos de 1 ano).
- crianças de mais de
2 anos = é mais ou menos nessa época que se inicia outra
maravilhosa fase, a da autonomia. Pra mim, nunca será precoce um desmame total a partir desta
época ou mesmo pouco antes, porém ainda
acho importante que não seja abrupto, estilo “a partir de amanhã
não mama mais”. Acredito que a partir desta fase é
perfeitamente possível, caso a redução das mamadas não vá
ocorrendo naturalmente (como é mais provável), ir negociando limites gradativos, por ex. passar a não mamar mais fora de casa, ou coisas do tipo.
Eu, particularmente,
não estabeleci nenhuma condição específica até cerca de 2 anos
(ou até mais), porém desde bem mais cedo que isso, digamos que no
mínimo a partir de 1 ano e meio, já procurava observar quando a demanda por mamar na verdade era demanda por minha atenção, por estarmos juntinhas, por um colinho - o que me leva ao ponto seguinte:
O fim da livre demanda (e da livre oferta!)
“Não negue, mas não ofereça”:
a Lia, do delicioso
bloguinho “Saco de Farinha”, que recomendo super, disse uma vez
que esta seria a regra de ouro do desmame natural.
Sem discordar dela, eu
preferiria escrever de outra forma:
“Se não pedir, nem
ofereça; mas, se pedir, certifique-se de que é MESMO mamar, ou se
pode substituir por outras formas de atenção, afeto e vínculo”.
Falando assim, parece
até fácil – ainda mais com minha relativa possibilidade de já
falar disso à distância, tendo já concluído essa fase.
Mas nunca é fácil. É ambíguo, é delicado, é sutil. Exige, acima de tudo, uma imensa sintonia com a cria, pra saber identificar os sinais do que é sono, saudade, irritação etc.
E de entender que ao
começar a introduzir a negativa à demanda em algumas situações ou
horários poderá acarretar, ao menos nas primeiras vezes, algum tipo de
protesto ou resmungo - isso também faz parte de crescer, de aprender a lidar com contrariedades e frustrações que vamos inevitavelmente encontrar na vida. E eis aqui um grande desafio, o de saber quando, ao se
falar não, a criança e a mãe dão conta de estabelecer outras formas de
relação que não passam por mamar.
Tem a ver também com o respeito à conquista da autonomia, ponto tão martelado pela querida Cláudia Rodrigues em suas reflexões inspiradas, como neste último texto aqui.
Tem a ver também com o respeito à conquista da autonomia, ponto tão martelado pela querida Cláudia Rodrigues em suas reflexões inspiradas, como neste último texto aqui.
Mamar e dormir X mamar pra dormir
Pra muitas mães, o
processo do desmame começa exatamente pelo desmame noturno,
principalmente no caso de crianças que continuam acordando muitas
vezes por noite e só voltam a dormir mamando. Reconheço a
necessidade destas situações, pois se a mãe estiver exausta,
sobretudo se já for retomando outras rotinas durante o dia, a
própria relação de amamentar deixa de ser gostosa e bacana e passa a se tornar um peso por tantas noites mal-dormidas.
Esta não foi minha
experiência, pois felizmente minha filha cedo começou a dormir
períodos longos, longuíssimos, sem mamar.
Estou falando de períodos
de pelo menos 8 horas, frequentemente 10 horas seguidas. Nestas
condições, sinceramente nunca me incomodou atender uma chamada lá pelas 4 da
manhã ou mais tarde de uma criança que tinha ido dormir às 8 da noite. Por isso
acabei não introduzindo outras estratégias igualmente válidas e recomendáveis,
como pedir ao pai pra atender a criança, ou usar outros recursos pra voltar a adormecer, como
embalar, cantar etc.
No meu caso, por pura preguiça mesmo, ao longo do tempo em que eventualmente fui solicitada à noite, eu amamentava. E nem sei exatamente quando, mas este desmame noturno foi de fato completamente natural. Ela simplesmente parou de pedir, ou quando pedia (e ainda pede uma ou outra rara noite), era e é pra atender alguma necessidade de beber água ou fazer xixi, ou então só mesmo garantir que estamos presentes pra que possa readormecer.
Por outro lado, quando
após os 2 anos fui gradualmente estabelecendo algumas condições, o
momento de mamar foi se tornando algo cada vez mais íntimo, só de
nós duas, e a opção natural pra nós foi reduzir as mamadas até chegar somente às
duas pré-rotinas de dormir (antes da soneca da tarde e antes do sono noturno).
No fim de 2012, como
ela já era muito condicionada ao seu relógio biológico de sono,
passei a tentar fazer dormir sem mamar antes, fazendo dormir com carinho, massagem, ou simplesmente por ficar ali perto, mesmo fazendo outra coisa.
Porém, uma dica posso oferecer aqui: não acostumar a adormecer com a boca no peito. Deixar mamar antes de dormir tudo bem, mas tentar ao máximo evitar cair no sono mamando.
No nosso caso, ainda entre 1 e 2 anos a Inaê já foi acostumando, na mamada pré-sono, a mamar e largar o peito pra então se virar pra dormir. Não sei exatamente como conseguimos isso, talvez isso já comece lá atrás, naquele hábito do dedinho, pra ir delicadamente introduzindo a soltura ao saciar.
Deste finalzinho, quando mamar já era algo tão íntimo nosso, sequer tenho fotos pra ilustrar a postagem. Por isso, as fotos aqui são todas de nossas viagens a Porto Alegre (dezembro de 2012) e Chapada Diamantina (fevereiro de 2013), período em que minha grandona já estava em processo avançado de desmame.
O ponto final veio quando contamos pra ela que agora teria irmãozinho (sim, eu ainda amamentava - ainda que de modo relâmpago - já com outro na barriga, contribuindo assim pra derrubar outro mito comum).
Aos poucos fomos conversando, nestes nossos momentos íntimos pré-sono, como o novo bebezinho vai mamar muito e este leite agora já está sendo feito pra ele etc. etc. E por isso que não sei exatamente quando (pois eu sempre me preparo pra algum tipo de idas e vindas), mas sei que alguma noite de março ela decidiu que o leite da mamãe agora será do irmãozinho. Sem choro, sem stress.
Aos poucos fomos conversando, nestes nossos momentos íntimos pré-sono, como o novo bebezinho vai mamar muito e este leite agora já está sendo feito pra ele etc. etc. E por isso que não sei exatamente quando (pois eu sempre me preparo pra algum tipo de idas e vindas), mas sei que alguma noite de março ela decidiu que o leite da mamãe agora será do irmãozinho. Sem choro, sem stress.
Sua rotina pré-sono continua a envolver algum grau de presença da mãe (ou do pai ou da avó ou da professora), mas porque pra ela adormecer esta presença ainda é importante. Mas não mais mamar em si.
E desde então, ela nunca mais mamou!
Ah Gabi, que delícia de processo, de sintonia, de mergulho nas dúvidas, nas decisões. E não é porque concordamos, essas coisas não se imitam, as dicas que damos umas para as outras não podem e nem devem ser imitadas, o lance é esse aí que você pegou tão bem, observar, observar-se, questionar, questionar-se. Com o segundo flui com menos dúvidas, mas é igualmente um mundo novo, outro ser, outro momento, outra relação. Ai que feliz de te ler e saber notícias.
ResponderExcluirSempre esperando que um dia retornem para uma visita tão boa como a última.
Danielle, como vai?
ResponderExcluirSou jornalista do portal UOL e estou escrevendo uma reportagem para o site Gravidez e Filhos sobre desmame e queria saber se pode me ajudar;
Pois bem, preciso entrevistar uma mulher que passou "recentemente" pela questão do desmame para contar às leitoras como ela procedeu para a criança ir despegando do hábito sem traumas.
Você poderia conversar comigo para saber como foi o processo com você?
Podemos conversar por skype ou por e-mail mesmo, que tal? Poderíamos nos falar até sexta-feira pela manhã?
Muito obrigada pela atenção.
Maria Laura Albuquerque
Muito lindo! estou passando por isso. Tenho uma filha de 2 anos e meio q ainda mama praticamente só para dormir, mas eu acho que eu ainda nao estou pronta para o desmame. Eu trabalho à noite e qdo estou d plantão ela dorme com o papai tranquilamente. sinto q esta chegando a hora mas acho tão importante para nós duas este laço. Amamentei meu filho que hoje tem 17 anos até os dois anos e cometi o erro de colocar bandaid. não sei por que fiz isto. Roselaine
ResponderExcluirOi Roselaine, muito grata pela visita e por compartilhar sua experiência! Desejo que o processo de desmame seja de fato muito tranquilo e positivo pra vcs duas, e que venham as novas fases!
ExcluirObrigada pelo post. Estou vivendo a experiência do desmame neste momento. Meu filho está com 3 anos e 3 meses. E sempre acreditei neste lindo ato, e que o desmame deveria ser feito suave e no tempo certo. Muito obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirBoa Tarde!!!
ResponderExcluirMeu nome e Kelly e minha filha Kauane completou 3 anos ontem e mama muito. E não é só para dormir. Ela se alimenta muito bem gosta muito de frutas e verduras. Principalmente brócolis, alface e tomate. Mas não larga o peito.
Ainda mama durante o dia e durante a noite. Não sei o que fazer mais. Tenho muiiiito leite ainda.
Olá... desculpe por demorar tanto em responder... Vou comentar mesmo assim, quem sabe ajude outras pessoas... porém: cada caso é único, cada indivíduo tem uma história. Isto dito, acredito que com 3 aninhos já conversa tudo, já dá pra ir fazendo "combinados", sem precisar ser uma ruptura de um dia pro outro (o que eu pessoalmente não recomendo). Ás vezes até enfrentará alguma resistência, muxoxo, até choradinha, mas dá pra sentir quando eles param logo. Por isso, é importante ir mantendo os combinados, uma vez feitos.
ExcluirPor aqui, meu segundinho já tem 3a e 4m, e segue mamando, mas neste momento nossos combinados progressivos já evoluíram pra uma única situação: de noite, só se já for na cama, na hora de dormir. Ele mama um pouco de cada lado e eu já falo: "agora tá bom né filho?". Aí faço carinho pra ele acabar de adormecer. Outras noites, ele esquece, ou fica muito cansado e dorme direto. E assim vamos indo, aos poucos combinando até parar de vez. Bjs e sorte!
Querida Kelly, faz 01 ano que desmamei meu filho. Ele hoje está com 4 anos e 3 meses. Não foi fácil. Depois de ler muita coisa, decidi por tomar uma decisão, não porque x ou y estavam dizendo que eu precisava fazer, mas porque eu achei que era o momento certo. Ele chorou muito na primeira noite, de luto mesmo, mas eu estava decidida. Tratei tudo com muito amor e carinho. Meu peito encheu demais de leite, mas com uns dois dias secou, naturalmente, sem remédio ou qualquer outra intervenção.
ResponderExcluirAqui... Com recem completos 3 anos. Sofrendo muito com a pressao social sobre ainda amamentar....
ResponderExcluirBoa Noite
ResponderExcluirObrigada
Estou passando por isso
É NEM sei como começar a maioria das pessoas me falam para tirar de vez...
Mais lendo seu relato minha mente se abriu
Olá, boa tarde mamães!
ResponderExcluirEstou passando por isso tbem, meu filho tem 3 anos, converso bastante com ele, mas não tem jeito,ainda acorda a noite p mamar...
Tô ficando bem cansada...
ResponderExcluir