"CONTA UMA HISTÓRIA?"
SUGESTÕES NESGUINHAS DO MARAVILHOSO MUNDO DAS NARRATIVAS
- "Mãe, conta a história de Nárnia?"
- "Pai, conta a história da Princesa Mononoke?"
- "Conta e aí?"
- "Conta e aí?"
Se aqui em casa a gente ganhasse um grão de areia pra cada vez que ouve frases como estas ao longo do dia, já estaríamos afundados numa duna gigante!
A Inaê é louca por histórias, sejam em livro, em filme ou "de boca" (recontada ou inventada). Está sempre pedindo uma, e adora sair representando por aí suas passagens preferidas do que ouviu ou assistiu!
Mas qual a criança que não adora uma história?
E aliás, quem, seja grande ou pequeno, não se fascina por histórias, contos, mitologias, narrativas várias, de todo tipo, de uma diversidade tão grande quanto a diversidade de gente que tem no mundo?
Por aqui, além de fascinados por uma boa história, gostamos também de pesquisar referências variadas de coisas boas, até pra fugir das franquias massificadas que assolam o mundo de nossas crianças.
Claro que a Inaê conhece todos os personagens mais tradicionais, mas a gente tenta ir além dos contos de fada clássicos e das versões Disney, trazendo sempre que possível referências de desenhos, contos e histórias que vem de outras culturas: África, Ásia, outros países da América Latina...
Faz tempo que queria compartilhar um pouco destas pesquisas aqui no blog - até pra facilitar quando queremos repassar as sugestões pros amigos! Ao menos dos livros e filmes mais marcantes aqui na nossa vida, pois existe muita coisa boa por aí, mas sempre tem aqueles que nos fazem pensar, os que tocam mais fundo, os que vão morar pra sempre em nossos corações...
Pode ser então uma espécie de coluna, a primeira aqui neste bloguinho - mas sem compromisso de periodicidade. Vou postando, quando puder, nossas sugestões de livros ou filmes... e não só voltados às crianças, afinal eu e Nes também amamos livros e filmes, e temos uma vasta lista a compartilhar!
Pra fechar este ano tão especial em que nasceu nosso príncipe Rudá, caçulinha da família nesguinha, e inaugurar 2014 em grande estilo, sugestões de um livro e um filme - ambos imperdíveis!
Um livro:
CHAPEUZINHO AMARELO
de Chico Buarque, com ilustrações de Ziraldo
Editora José Olympio
Tinha que começar com um clássico. Um livro publicado originalmente em 1979, com inúmeras reedições, e que reúne do jeito mais perfeito forma, conteúdo e imagem.
O livro já começa chamando a atenção da gente pela alusão à personagem tradicional dos contos de fada, porém se lá o vermelho representa a puberdade das meninas-moças correndo risco ao se depararem com "lobos maus", aqui o amarelo é de MEDO mesmo.
Chapeuzinho Amarelo é a menina que tem medo de tudo, e que já não faz nada devido a este medo, não brinca, não joga amarelinha, não sai de casa etc. Seus medos, imaginários ou não, se transformaram na sua realidade cotidiana.
Claro que o medo maior ("o medo do medo do medo") é do lobo, um lobo que nem existia, mas que, de tanto ela ter medo, acaba também se materializando pra Chapeuzinho.
E se materializando do jeito mais medonho, "capaz de comer duas avós, um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz, e um chapéu de sobremesa".
Na prosa musical de Chico Buarque, o texto vem fluindo deliciosamente em rimas, repetições, aliterações e outros recursos poéticos.
E é justamente do jogo poético de palavras que vem a solução pra menina com medo de tudo enfrentar seus medos: numa das passagens inesquecíveis, a palavra LOBO repetida muitas vezes acaba se tornando BOLO... um bolo de lobo fofo!
E as inspiradas ilustrações de Ziraldo se integram de forma perfeita ao jogo das palavras.
A partir daí, a Chapeuzinho - não mais amarelo, só Chapeuzinho: agora
menina destemida, forte, ativa, insubmissa - passa a fazer esta
troca-troca de sílabas com todos os seus medos e monstros (trosmons),
como a bruxa (xabru), o bicho-papão (pão-bichopá), ou a barata (tabará).
Simplesmente apaixonante!!!
Comecei a ler este livro pra Inaê quando ela completou 2 anos, e ela desde o começo amou esta parte do jogo de palavras.
A exemplo da Chapeuzinho, ficávamos fazendo a brincadeira de mudar o nome de tudo à nossa volta! Agora que já começou a se interessar pelas letrinhas, o jogo assume novos desafios, pra não falar nos questionamentos sobre nossas próprias ambiguidades, os enfrentamentos dos próprios medos - não só enquanto crianças, mas como adultos também... Taí um livro pra gente amar pelo resto da vida!
Um filme:
MEU VIZINHO TOTORO
de Hayao Miyzaki
Estúdio Ghibli
A primeira vez que vi um filme de Miyazaki foi quando eu e Angel morávamos em Barcelona, entre 2002 e 2003, e um cinema meio cult que sempre passava umas sessões duplas passou Princesa Mononoke e Viagem de Chihiro. Fiquei louca com aquilo, voltando ao Brasil levei todo mundo pra assistir Chihiro.
Tudo que ele faz é mágico, por isso vou postar muitas dicas vindas do Estúdio Ghibli por aqui... Mas o que é mais mágico nos filmes de Miyazaki é aquele jeito meio doido em que as situações mais fabulosas e fantasiosas acontecem com os personagens e eles agem de um modo como se tudo fosse muito natural!
Foi só depois de começar a apresentar filmes pra Inaê que voltei a buscar Miyazaki, e um dos primeiros foi logo Totoro, que é um dos mais apropriados pra crianças muito novinhas (ela tinha 2 anos e meio quando viu pela primeira vez).
Muito já se disse que o filme tem pouca ou nenhuma ação, porém isso não é verdade. O seu ritmo é muito diferente dos filmes hiper-acelerados supostamente voltados às crianças de hoje em dia. Só que nem por isso deixa de ser um filme totalmente envolvente e encantador, cheio de detalhes que nos prendem.
É a história de duas menininhas, Satsuki e Mei, que se mudam com o pai professor para uma casa no campo, pra ficarem mais perto da mãe, que está internada num hospital fazendo tratamento de saúde.
A casa parece meio mal-assombrada, mas as meninas não têm medo, pelo contrário: se divertem horrores, explorando tudo ao seu redor.
Elas são fofas demais, e seus momentos de brincadeiras e descobertas nos deixam extasiados!
Daí um belo dia, a menorzinha, Mei, encontra um bichinho saindo da casa, e o segue, até encontrar o bichão: Totoro (uma corruptela de Troll, palavra que tinha num livro dela mas ela não conseguia pronunciar). O troll mais gracinha que já vi, um grande bichão de pelúcia, vontade de apertar e pular em cima dele igual a Mei faz!
Assim como quase todos os filmes de Miyazaki, a história aparentemente simples encerra mensagens profundas sobre a relação entre os seres humanos e a natureza, e tem personagens inesquecíveis, mas que nem dá pra contar mais aqui dos outros pra não estragar a surpresa de quem não viu...
Pra quem não conhecia Miyazaki, um começo fantástico... Totoro é um filme que vai maravilhar crianças de qualquer idade!
E assim, desejo um ótimo início de 2014, e até as próximas dicas nesguinhas do "Conta uma história?"!!!
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